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quarta-feira, 22 de março de 2023

O Museu do Caju e as mulheres do cordel

O Museu do Caju e as mulheres do cordel

O Educador e pesquisador Gerson Linhares idealizou o MUSEU DO CAJU

 em 1995 e em 2007 inaugurou, transformando assim, seu sonho em realidade.

 O Museu fica em Caucaia próximo a Fortaleza.

Além de mostrar o caju e seus derivados para o mundo, prestigiando nossa cultura cearense, contando a história do caju, Gerson Linhares cria oportunidades, para que poetas, escritores, artesãos, fotógrafos também possam expor no Museu do Caju os seus trabalhos.

Sou grata a Gerson, por descobrir minha paixão pelo caju, fazer um apanhado dos meus escritos sobre a fruta e seus derivados e por fim, editar um folheto com, fotos e poemas de minha autoria para o Museu.

Como poeta de Cordel, não estou sozinha neste espaço. Temos a minha amiga cordelista Ivonete Morais e a também cordelista Mariana Lima.

Dalinha Datunda

dalinhaac@gmail.com


 








terça-feira, 21 de março de 2023

A SAUDADE


 

A SAUDADE

*

A saudade é uma loa

Dedilhada em tom plangente

Que ao som duma viola

Treme no peito da gente

E na voz dum cantador

Vira uma canção de amor

De quem chora o ser ausente.

*

Foto e versos de Dalinha Catunda

dalinhaac@gmail.com

sábado, 11 de fevereiro de 2023

MONTANDO VERSOS


 

MONTANDO VERSOS

*

Já fui boa amazona

Gostava de cavalgar

Tinha um cavalo baixeiro

Elegante no trotar

Hoje não monto mais nada

Vivo de crina abaixada

E nem me atrevo a trepar.

Bastinha Job

*

Eu aprendi a trepar

Não escorrego nem caio

Me trepo até em jumento

Carregado de balaio

Aprendi lá no sertão

Monto sem cair no chão

Sem precisar de ensaio.

Dalinha Catunda

*

Tenho certeza que caio

MINHA querida Dalinha

A velhice é atestado

Dessa invalidez só minha:

Nas pernas não me sustento

Não trepo nem em jumento

Nisso você é rainha!

Bastinha Job

*

A idade não me aporrinha

Cansaço inda não bateu

Eu não vou cruzar as pernas

Monto um baio que é só meu

Meu sonho não é quimera

Renasce na primavera

Meu gosto não pereceu.

Dalinha Catunda

*

Foto do acervo de Dalinha Catunda

Versos de Dalinha Catunda e Bastinha Job.

 

sábado, 21 de janeiro de 2023

ESTOU FALANDO A VERDADE SE NÃO FOR QUERO É CEGAR


 

ESTOU FALANDO A VERDADE

SE NÃO FOR QUERO É CEGAR

Mote de Dalinha Catunda

*

Em duas quengas batendo

Lá de casa ele saiu.

Fez até que nem me viu,

Mas tudo eu estava vendo.

Me arrumei saí correndo

Pra coco também dançar.

Hoje as quengas vou quebrar,

E bati sem piedade:

ESTOU FALANDO A VERDADE

SE NÃO FOR QUERO É CEGAR.

*

Um padeiro distraído

Me deixou comendo mosca

Acabou queimando a rosca

Fiz o maior alarido

Não quero para marido

Quem vive a rosca a queimar

Ele até quis se explicar

Mas fiz uma tempestade.

ESTOU FALANDO A VERDADE

SE NÃO FOR QUERO É CEGAR.

Dalinha Catunda

Cordelista- Cirandeira e artesã

dalinhaac@gmail.com

sábado, 17 de dezembro de 2022

AS BENEDITAS









AS BENEDITAS

*

Agora moro na roça

Gosto de viver assim

Recordo meu Ceará

Que está distante de mim

Para lembrar meu sertão

Flores do antigo rincão

Eu planto no meu jardim.

*

Eu planto no meu jardim

As singelas beneditas

São flores bem resistentes

Coloridas e bonitas

Rosa, branca e amarela

Cada qual é a mais bela

As cores são infinitas.

*

As cores são infinitas

Transmutam naturalmente

Cultivar é muito fácil

É só plantar a semente

Que se tira do botão

Depois de enterrar no chão

Elas Nascem facilmente.

*

Elas Nascem facilmente.

Estou sempre a constatar

Atraem as borboletas

Que fazem festa ao pousar

E nesta constante ação

Dar-se a polinização

Com função de matizar.

*

Versos e fotos Dalinha Catunda 

Cordelista, Cirandeira e artesã

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

COM RG


 

COM RG

Gosto muito de criar

Pra isso tenho argumento

É fértil meu pensamento

Na arte de imaginar

Não sou dada a copiar

Porque na realidade

Minha personalidade

Eu imprimo em cada linha

Embaixo assino Dalinha

Com originalidade.

*

Dalinha Catunda

Cordelista, Cirandeira e artesã

dalinhaac@gmail.com

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

MEU CORDEL CIRANDEIRO EM PARATY

MEU CORDEL CIRANDEIRO EM PARATY

Preparei algumas atividades para a Festa de Paraty,

 para serem apresentadas na Casa do Cordel.

Entre elas destaco a Ciranda do Coletivo IPHAN, Rio de Janeiro.

Hoje aproveito para agradecer cada participante, que esteve nessa Ciranda Cultural, cantando o refrão com alegria e lendo seus versos com entusiasmo, ao som do violão da poetisa Paola Torres, que fez parte do nosso grupo.

 

Ciranda do Coletivo IPHAN, Rio de Janeiro.

*

REFRÃO

Cirandeiro, Cirandeiro Ó

Eu vim declamar meu verso

Bonito como ele só.

Cirandeiro, Cirandeiro Ó

Eu vim declamar meu verso

Bonito como ele só.

*

DALINHA CATUNDA

O cordel tem seu registro

Tem nome tem tradição

É bem imaterial

E cultural da Nação

E eu sou Dalinha Catunda

Na salvaguarda em ação.

*

NALDA

Sou Redondilha, sou Nalda,

Sou cabocla potiguar

Artesã e folheteira

Sou cultura popular

E também sou cirandeira

Pois gosto de cirandar.

*

PAOLA TORRES

Meu nome é Paola Torres

Doutora por profissão.

Levo a vida na rabeca,

Nos versos no violão,

Com meu verso cirandeiro

Canto da praia ao sertão.

*

FERNANDO ASSUMPÇÃO

Sou produtor cultural

Eu sou Fernando Assumpção

Quando escuto uma ciranda

Logo penso em tradição

Na poesia cantada

Na dança de mão em mão

*

SEVERINO HONORATO

Sou poeta aboiador

Sou também oficineiro

Na roda duma ciranda

Troco de passo ligeiro

Sou Severino Honorato

Sou de salão e terreiro.

*

ZÉ SALVADOR

Sou poeta de cordel

Me chamam Zé Salvador

Quando entro na Ciranda

Penso logo em meu amor

Com sua saia rodada

Toda enfeitada de flor.

*

LETÍCIA RIBEIRO

Eu sou Letícia Ribeiro

Também estou na ciranda

Procurando orientar

Cirandeiras e demanda

O IPHAN tem tradição

E sabe como comanda.

*

EDMILSON SANTINI

Sou Edmilson Santini

Sou de cordel e teatro

Vou espalhando cultura

A rima eu mostro no ato

Essa é a minha figura

Só com arte eu tenho trato.

*

RAFAEL

Nessa ação de salvaguarda

Também tenho meu papel

Vou apoiando os poetas

Na ciranda do cordel

Tenho o aval do IPHAN

E o meu nome é Rafael.

*

Versos de Dalinha Catunda

FLIP- Festa Literária Internacional de Paraty

Aconteceu de 23 a 27 -11 -2022

dalinhaac@gmail.com

 

domingo, 4 de dezembro de 2022

ÁRVORE SERTANEJA


ÁRVORE SERTANEJA

*

Essa árvore de Natal

Fiz lembrando meu sertão

Foi montada num garrancho

Como nos tempos de então

O que em cordel contei

Na árvore pendurei

Fazendo a decoração.

*

DALINHA CATUNDA

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

O CASTIGO DA SOGRA MALVADA

O CASTIGO DA SOGRA MALVADA

1

Eu vou contar uma história

Daquelas de antigamente

Que ouvi quando criança

E guardei na minha mente

Foi Tia Isa quem contou

E eu agora aqui estou

Passando a história a frente.

2

Sempre à boquinha da noite

Com cadeiras na calçada

Sentava-se minha tia

No meio da criançada

Que ouvia com atenção

Detalhes da contação

De cada história narrada.

3

Foi assim que me criei

E abraço essa tradição

Um ponto vou aumentando

No transcorrer da oração

Sem esquecer a magia

Das histórias de titia

Nas calçadas do sertão.

4

Pra não quebrar a magia

Desse jeito de contar

Vou imitar minha tia

No modo de iniciar

Descrever como ela fez

Repetindo: ERA UMA VEZ

Para a história começar.

5

Era uma vez uma mãe

Que bem moça enviuvou

Tinha somente um filhinho

Dele muito bem cuidou

Era a razão da sua vida

Para a criança querida

Carinho nunca faltou.

6

Um bom menino ele era

Sempre muito obediente

Auxiliava sua mãe

Não fugia do batente

Viviam em harmonia

Um do outro companhia

O que a deixava contente.

7

O tempo foi se passando

O bom menino cresceu

Seu mundo ficou maior

A mãe logo percebeu

E assim viviam em paz

Pois tornou-se um bom rapaz

O filho que Deus lhe deu.

8

Quando o filho já rapaz

Começou a namorar

Tirou da mãe o sossego

Por ela não aceitar

Mais uma mulher na vida

Da criança tão querida

Do seu menino exemplar.

9

E cada vez que o mancebo

Um namoro iniciava

A velha toda manhosa

Uma doença inventava

Ele muito preocupado

Não saía do seu lado

E sem namorar ficava.

10

Era um moço inteligente

Mas tinha uma mãe sagaz

Uma mulher egoísta

Que de tudo era capaz

Para o filho não perder

De tudo iria fazer

E roubou do moço a paz.

11

Para não aborrecer

Nem a mãe contrariar

Só namorava escondido

Coisa séria nem pensar

Mas quando chega a paixão

Quem fala é o coração

E ninguém pode empatar.

12

Com o filho da viúva

Foi isso que aconteceu

Um dia numa quermesse

Uma jovem conheceu

Passaram a namorar

A mãe quis atrapalhar

Mas resultado não deu.

13

Era moça bem-criada,

Donzela muito bonita

E tinha nome de Santa

Essa meiga senhorita

Foi batizada e crismada

Pelo pai foi registrada

A bela Maria Rita.

14

A viúva a contragosto

A donzela recebia

Porém não se conformava

Com tudo que acontecia

E até fez um juramento

Acabo esse casamento

Não vai demorar dizia.

15

Tratava a futura nora

Com desdém, com insolência

Maria Rita humilhada

Fez promessa e penitência

O casório aconteceu

Maria Rita venceu

Usando de paciência.

16

A velha engoliu o choro

Porém a vingança armava

Na sua cabeça insana

Dia a dia arquitetava

Um plano muito cruel

Com gosto amargo de fel

Com sua astúcia contava

17

O filho mesmo casado

Perto da mãe foi morar

Apesar dos contratempos

Não iria abandonar

A sua mãe tão querida

Mulher que lhe deu a vida

E que não deixou de amar.

18

O seu trabalho era ingrato

Viajava o tempo inteiro

Pois comprava e revendia

Couro pra fazer dinheiro

Deixava a mulher sozinha

Tendo a mãe como vizinha

Sempre ficava cabreiro.

19

Sempre que a sogra podia

Da nora falava mal.

Mas o marido dizia:

- Meu amor é especial!

- Pode ser que sim ou não,

Vamos ver quem tem razão.

Quem está certo afinal.

20

- Minha mulher é honesta

E tem um bom coração.

- Você acredita nisso?

- Porém eu não creio, não!

- E se você não me aprova

- Faça com ela uma prova

Vai ver que tenho razão.

21

- Arquitete uma viagem

- Porém volte do caminho

- De noite você vai ver

- O que sucede em seu ninho.

O rapaz mudou de cor

Seu olhar era de dor

Não queria ser mesquinho.

22

Entretanto resolveu

Fazer o que a mãe queria

Pois viver cheio de dúvidas

Ele não conseguiria

O ciúme lhe encharcava

Mas ao mesmo tempo achava

Que a mulher não merecia.

23

Arrumou a sua viagem

Como em outras vezes fez

E beijou a sua amada

Meio sem jeito, na tez

Pediu pra nossa Senhora

Proteção naquela hora

Pra não se perder de vez.

24

Com o coração partido

Ele deixava seu lar

Sem saber o que seria

Dele quando regressar

Pela fresta da janela

A sua mãe de sentinela

Confiante a vigiar.  

25

A viúva nem pensou

Que Deus é onipotente,

Se o cão, atenta d’um lado,

Deus do outro está presente

Vestiu-se para sair

E seu plano concluir

De maneira inconsequente.

26

Não demorou muito tempo

Um homem apareceu

De terno e usando chapéu

E em sua porta bateu

O moço ficou gelado

Completamente abalado

E a tragédia aconteceu.

27

Correu pra cima do homem

Com uma arma na mão

Descarregou a pistola

Tinha perdido a razão

O homem caiu de bruços

Gritava o moço em soluços

Não aceito traição.

28

Irado arrombou a porta

E a mulher puxou sem tino

Arrastou pelos cabelos

Em completo desatino

Venha ver o seu amante

Que eu matei nesse instante

Você me fez assassino.

29

A mulher sem entender

Apavorada gritava:

- Eu nunca tive um amante!

Mas ele não escutava

E seguia enlouquecido

Pra porta onde o falecido

Ensanguentado estava.

30

Quando chegaram a porta

Ele soltou a consorte

Desvirou o traidor

Que não escapou da morte

De susto ele desmaiou

Porque não acreditou

Na sua falta de sorte.

31

Pois naquela cena atroz

O corpo inerte no chão

De terno e com um chapéu

Lhe causava comoção

Era sua mãe querida

Mulher que lhe deu a vida

Caiu na própria armação

32

A pobre Maria Rita

Resolveu naquela hora

Abandonar o marido

Que o seu perdão implora

Mas ela com os seus ais

Voltou pra casa dos pais

Para sempre foi embora.

*

Cordel de Dalinha Catunda

Ilustração: Roberto Braga

dalinhaac@gmail.com