MEU CAJU, MEU CAJUEIRO CORDEL
1
O conhecimento eu tenho.
Peço a musa inspiração,
Pra falar do cajueiro,
Riqueza do meu sertão.
Versos trago no baú
Da castanha e do caju
Pra compor essa oração.
2
Vem do tupi-guarani
Este termo “aca-yu”,
Que é: Noz que se produz,
Dando origem ao caju.
Nosso caju brasileiro,
Que brota do cajueiro.
Faz rico nosso menu.
3
Tupis marcavam os anos
De maneira singular
Na colheita do caju,
Para a idade marcar
Usando sua façanha,
Guardavam uma castanha
Num pote para contar.
4
Chuvas do caju ocorrem
Em setembro no Ceará.
É a chuva da colheita.
Afirma o povo de lá.
Essa precipitação
É espaça no sertão
Na estação que seca está.
5
Tem o cajueiro anão
E tem gigante também.
Anão vai a quatro metros,
Mais de vinte o grande tem.
Porém o maior do mundo
De Natal é oriundo
De Pirangi grande bem.
6
Cantou Juvenal Galeno,
” Cajueiro Pequenino”.
Vou fazer como o poeta,
Nesse louvor genuíno.
Vou falar da serventia
Do caju com poesia
No meu cantar nordestino.
7
Primeiro quero informar
Nessa minha explanação,
Uma dúvida que existe,
E até causa confusão.
É que o fruto verdadeiro,
Que carrega o cajueiro,
É castanha, caju não!
8
Quero aqui falar da fruta.
Enaltecendo o sabor.
Falar da casca e da folha
Do aroma que solta a flor
Da sombra do cajueiro,
Onde meu amor primeiro
Declarou-me o seu amor.
9
O caju é o falso fruto,
Pedúnculo ou acessório,
Porém sua utilidade
Não tem nada de ilusório.
É sempre bem empregado
Na cozinha ele é usado
De modo satisfatório.
10
Tem caju, tem cajuí,
E caju banana tem.
Tem amarelo e vermelho,
Alaranjado também.
Caju tem variedade.
É fruta de qualidade,
Saudável e nos faz bem.
11
Do caju se faz um suco,
Nutritivo e refrescante.
E que além de saboroso,
Pra saúde edificante.
Na casa do nordestino
Enche o bucho de menino
É suco revigorante.
12
Vinhos feitos de caju,
Vêm dos nossos ancestrais.
Os indígenas faziam
Pra beber nos rituais.
Em cada celebração,
O gosto de tradição
Tinha os cerimoniais.
13
Em se tratando de doce
De caju tem variado:
Tem o doce de compota,
Em calda e cristalizado,
Doce liso tem também,
Do sabor pergunte alguém,
Que tenha deles provado.
14
Derivada do caju,
Também tem a cajuína.
Destaco a que já bebi,
Pras bandas de Teresina.
E no Cariri provei,
Da São Geraldo e gostei,
Que delícia nordestina!
15
Uma curiosidade
Confesso cansei de ver.
Foi o broto do caju
Dentro do litro crescer,
Depois da fruta crescida,
A cachaça era acrescida
No litro pra envelhecer.
16
No tempo da floração,
Emana do cajueiro,
Um cheiro peculiar,
Que o vento espalha ligeiro,
E desde os tempos da infância,
Eu sinto a mesma fragrância,
Que sentia em meu terreiro.
17
A flor além de cheirosa,
Também é medicinal.
Ela é anti-inflamatória,
Diurético natural.
Mezinha convidativa,
E sendo depurativa,
Ajuda sem fazer mal.
18
Usamos cascas e folhas,
Para um bom chá produzir.
Bom pra problemas de pele,
E pra parar de tossir.
Para catarro e fraqueza,
Esse chá é uma beleza!
Já vi mamãe consumir.
19
Que o caju rouba a cena
De fato, é realidade.
Mas a castanha entretanto,
É o fruto de verdade!
Convidativa e gostosa,
Nutritiva e saborosa,
E de muita utilidade.
20
Em terreiros e quintais,
A castanha era assada.
Fogueira e lata furada,
Nas farras da meninada.
Recordo dessa folia,
Eu repleta de alegria,
Curtindo a mesma jornada.
21
Eu sou cabocla nascida,
Criada no interior.
Comendo muita castanha,
Do caju trago o sabor.
Como boa nordestina,
Tomo suco e cajuína,
E até já tomei licor.
22
Quando é tempo de caju,
Eu toda assanhada fico.
Igualmente a passarinho,
Eu vivo melando o bico.
Com a vara de bambu,
Vou cutucando o caju,
E pego sem pagar mico.
23
Tenho paixão por caju,
Pelo gosto e cheiro agreste.
E o colorido que dá,
Às feiras lá do Nordeste.
No museu do caju sou,
A cabocla que cantou,
Esta riqueza campestre.
24
Tenho setenta cajus,
Nos passos da minha estrada.
Do caju quero o refresco,
A castanha quero assada.
E do cajueiro a sombra,
Pois idade não me assombra!
Continuo a caminhada.
Fim
Cordel de Dalinha Catunda