Seguidores

domingo, 2 de setembro de 2007

A Donzela Que Virou Índia


A Donzela que Virou Índia

*

Contam-me que certa vez,

Pras bandas do Ararendá

Um índio roubou Tereza

Pra com ela se casar.

A família ficou louca,

Acho que dormiu de touca,

Pra donzela se mandar.

*

De família conceituada

De um clã de tradição

A mocinha raptada,

Da família dos Mourão,

Mas dizem que na verdade,

Ela se foi por vontade

Seguindo seu coração

*

Família desesperada

A procura da donzela,

Polícia e até cachorro,

Colocaram atrás dela.

Era bem grande a tristeza,

E por causa da Tereza,

Acenderam até vela.

*

Pele branca olhos azuis

Tinha a donzela bonita

Tinha o cabelo loirinho

Usava laço de fita

Pelo índio apaixonada

Meteu o seu pé na estrada

Deixando a família aflita

*

Passou dia passou noite,

Passou mês e passou ano,

Tantas luas se passaram,

Então veio o desengano.

Ele comeu a donzela,

Cozida numa panela,

O povo estava falando.

*

Ele não era antropófago

Nem a comeu na gamela,

Foi na rede de tucum,

Que ele traçou a donzela,

E todo ano nova cria,

A ex-donzela paria

Sem ligar para esparrela.

*

Aquela cultura indígena,

A branca tomou para si.

Adorava o Deus Tupã

A sua lua era Jaci.

Achou por bem se despir,

Para seu corpo sentir

Os raios de Guaraci.

*

Sobe rio, desce rio,

Assim vivia Tereza

Agarrada ao jacumã,

A curtir a natureza

E era tanta alegria,

Que ela contente sorria,

Usufruindo a riqueza.

*

O Conforto que ela tinha,

Na cidade, lá deixou

cama, chuveiro e penico,

Disso nunca reclamou.

As noites enluaradas,

De estrelas salpicadas,

Compensava o que largou.

*

Depois de muito tempo,

Um belo dia à tardinha,

Vestida de índia guerreira

Apareceu Terezinha

Dizendo ter se casado,

E tinha ali do seu lado,

Um monte de indiazinha.

*

Com uma flecha no ombro,

E na cabeça um cocar,

Assim desfilava a branca,

com penacho e com colar,

E nem mesmo Iracema,

A que de Alencar foi tema

Tantas penas soube usar.

*

Hoje vivendo na mata,

Numa aldeia, numa oca,

Aprendeu a se fartar

Entrando na mandioca

Rio a cima ela se joga

Em cima de uma piroga

Curtindo em sua maloca.

*

Cordel de Dalinha Catunda

Editado em 2007

dalinhaac@gmail.com

 

13 comentários:

Anônimo disse...

Amigos,
Teresa Mourão adora uma foto e teve a gaiatice de me mandar essa foto onde seu rosto é real, num cenário montado.
Tive a idéia,(não sei se de jerico)de criar uma historinha em versos para fazer jus a foto. Lógico que, com a permissão da india fotografada.
Dalinha Catunda

Anônimo disse...

Dalinha, nunca ri tanto em toda minha vida, somos duas malucas mesmo,uma por tirar esta foto em uma galeria no Centro Cultural Dragão do Mar e a outra por bolar esta estória engraçada. Em todo caso está aprovada, adorei os versinhos e quem sabe neste dia a índia que tinha dentro de mim surgiu. hehehe

Unknown disse...

Nenhuma expressão cultural deve ser taxada de maluca...Em ambos os casos - Dalinha e Tereza formaram um dueto prestigiando o folclore brasileiro.
Sem nenhuma rasgação de ceda, tanto a foto quanto cordel ficaram de primeira....

Jean Kleber disse...

Dalinha, essa arrebentou a boca do balão. Uma granfina Mourão que virou índia. Genial!
Parabéns (a você e à índia...rsrs)

Anônimo disse...

Oi Dalinha! Primeira vez visita ao seu cantinho e realmente achei muito divertido, adoro suas poesias e cordéis! Muito criativa e engraçada a história da índia Tereza = )
Minha passagem por aqui será rotineira a partir de então. Um grande abraço!

Anônimo disse...

A Donzela que virou índia é um conto poema fantástico,entrando no campo da psicologia comparativa, quis Dalinha narrar uma inversão da bela fábula de Alencar, Iracema. Se nesta a donzela é índia e o mocinho o "donzelo", na sua a inversão é clara. Seus trabalhos retratam resgates longíquos, valiosos e acima de tudo trabalhados com cautela e talento. Parabéns novamente à sensível poetisa.

Bérgson Frota

Anônimo disse...

Parabéns à Dalinha e também à minha amiga Tereza, agora Índia, que nos proporcionaram, com esse dueto de início improvisado - mas que ficou uma maravilha - uma verdadeira viagem da imaginação através desses versos alegres e bem humorados, que demonstram, com uma sensibilidade ímpar, o talento dessa poetisa e cordelista do nosso Brasil!!
Um abração!!

Anônimo disse...

Dalinha, mesmo de tão longe estou visitando seu blog. Mas transformar uma Tereza Mourão em uma historinha de índio. Foi nota 10. Parabéns Dalinha! Seus versinhos estão arrazando. Abraços e até à volta.

Anônimo disse...

De india todos temos um pouco, mas a Tereza ...ahhhh a verdadeira india BRANCA! Adorei os versos! A sintonia e afinidade de voces com certeza vai muito além dessa vida! bj no coração,

Raquel Paiva

... disse...

Bom dia,aliás bom domingo.
Parabéns Dalinha,pela homenagem à nossa amiga Teresa.Linda! belos versos e montagem fantástica.
Beijinhos
Socorro da d.Brígida.

Anônimo disse...

muito legal esses versos da India Tereza e gostei da sua foto também...beijos, Regina

Unknown disse...

Parabéns a Dalinha e a Tereza... Que de outras fotos possam surgir mais poesias como esta muito linda. abraço Tereza.
Zilma...

Cana Brava disse...

e o FARIAS BRITO ,grande homem ,influente até hoje,olha dalinha nao tira meu comentario,nao entendo sua atitude.vç ja leu as obras dele? um abraço!
ARARENDA,02 DE FEV. DE 2009