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sexta-feira, 31 de outubro de 2008

A TELEVIZINHA, SEU MUNDICO E A LAGARTIXA



“A TELEVIZINHA,” SEU MUNDICO E A LAGARTIXA

Ipueiras além de abrigar seus filhos, sempre foi uma cidade bem hospitaleira recebendo com cordialidade os filhos de outras terras que por lá fixavam residência por algum motivo.

Durante certo tempo morou na pequena Ipueiras, seu Mundico, um senhor simpático, casado com dona Abigail, uma senhora gorda de sorriso largo.

Não sei de onde veio o simpático cidadão, mas sei que ele veio para ocupar uma vaga nos correios. O que fez por um bom tempo.

Ipueiras era um típico interior sem grandes distrações que se pudesse desfrutar no dia-a-dia. As conversas nas calçadas ainda predominavam. E era até muito bonito ver as calçadas cheias. Enquanto os adultos conversavam, a criançada corria alegre pelas calçadas. Eram as ditas “tardes fagueiras que tanto me encantavam no interior.

Quando seu Mundico chegou a Ipueiras lá pelo final dos anos sessenta, suponho eu, uma novidade tomava conta da cidade. A televisão! Não se falava em outra coisa.

Contava-se nos dedos a casa dos poucos privilegiados que possuía esse luxo, a novidade do momento! Com isso surgiu outra novidade: “A TELEVIZINHA.” Ou seja, ver televisão na casa da vizinha.

Como poucos tinham acesso à televisão, criou-se o hábito de assistir televisão na casa dos vizinhos mais abastados, que compreensivamente viam suas salas lotarem como se fossem salas de cinema, com pessoas que queriam usufruir do inusitado

A reunião era sempre no final da tarde. Adultos sentados em cadeiras e crianças sentadas no chão. E todos de olhos arregalados e ouvidos bem abertos. Muitas vezes, só víamos vultos e um chuvisco brilhoso, e todos ficavam felizes quando feito relâmpagos aparecia alguma imagem.

Pois bem, foi numa tarde dessas que seu Mundico e dona Abigail chegaram para a sessão da tarde na casa da Tia Odete. Todos estavam sentados, compenetrados, assistindo a programação vespertina.

De repente seu Mundico tira a alpargata de couro, põe o dedo fura bolo na boca, e baixinho diz:__não se mexam!!! E caminhando cuidadosamente, entre os espectadores vai até a parede e sapeca a alpargata em cima de uma lagartixa que se esfarela toda diante do riso da criançada, do olhar desolado da Tia Odete e da descoberta tardia do pobre Mundico que só veio saber, que o pequeno animal que ocupava inofensivamente a parede, nada mais era que um simples bibelô, uma peça de decoração que não resistindo às chineladas transformou-se em pequenos cacos esfarelando-se totalmente no chão.

Às vezes um espetáculo ao vivo e a cores tem muito mais graça do que o apresentado via televisão. Este eu gravei na memória.

Imagem:overmundo.com.br/.../1192563645_arteviva.jpg

4 comentários:

Anônimo disse...

Uma crônica que prende, empolga e nos faz lembrar das grandes figuras de Ipueiras que hoje não estão entre nós. Parabéns.

Regina Ramão disse...

Que gostosura! Lembrar as tardes fagueiras, os televizinhos, são douçuras da minha infância também. Esta lagartixa lembrou-me uma estória de quando minhas meninas eram pequenas. Uma colega minha de faculdade, solteira ainda, foi estudar lá em casa. Minhas pequenas travessas pegaram uma lagartixa de borracha e colocaram junto à porta para que a "tia" se assustasse na hora de sair. Elas odiavam ter que dividir minha atenção com a minha colega. Na hora de ir embora, minha amiga quase teve um ataque cardíaco. Mal-humorada, olhou para mim e disse em tom severo: "Tu tens que dar educação para estas tuas filhas". Ao que concordei de pronto, afinal não queria discutir por bobagem. Ela foi embora e olhei feio para as meninas, uma com 4 e a outra com 2 anos, uns bebês. Elas me olharam com os olhos caídos, achando que iriam levar bronca. Vendo aquelas carinhas de anjos com medo, não resisti e cai na risada, dizendo a elas que foi muito engraçado o susto que a tia levou, só que não era para repetirem a peraltice.

Beijos, Dalinha!
Boa semana!

Re

Dalinha Catunda disse...

Bérgson,
Ipueiras é minha fonte, eu diria, quase inesgotável de temas.E fico feliz em poder relembrar tantas histórias interessantes de nossa cidade.

Dalinha Catunda disse...

Olá Regina,
Que bom saber que você se identifica com minha crônica.
Suas lembranças bem que poderiam também se transformarem em crônicas no, Brisa do Sul.
Um abraço e obrigada por passar sempre em meu blog,
Dalinha