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quinta-feira, 4 de junho de 2020

PELEJA VIRTUAL - DALINHA CATUNDA X AGLIBERTO BEZERRA

PELEJA VIRTUAL
FOI CULPA DE SANTO ANTÔNIO
1
DALINHA CATUNDA
Espalham que santo Antônio
É Santo casamenteiro
Já fiz promessa pro Santo
No cofre botei dinheiro
E para minha desgraça
Em mim ninguém acha graça
Tá difícil um companheiro.
2
AGLIBERTO BEZERRA
Pois Dalinha Santo Antônio
É santo que nunca falha
Se tivesse vindo a festa
Na cidade de Barbalha
Dar no traje aquele grau
E é só sentar no pau
Que depressa desencalha
3
DALINHA CATUNDA
Eu me mandei pra Barbalha
No pau eu passei a mão
Sentei mais de uma vez
Alisei na ocasião
Nem com chá ou simpatia
O tal santo me atendia
Mas a fé não perco, não
4
AGLIBERTO BEZERRA
Fique sabendo que ele
Arruma qualquer sujeito
Se quiseres arrumar
Um homem sério e direito
Quem arruma é São José
Vá pra Missão Velha a pé
Que o casamento é perfeito.
5
DALINHA CATUNDA
Não vou falar mal de santo
Com eles não quero intriga
Porém São José é fraco
Tem outro melhor na briga
Chamado de São Gonçalo
Que na dança e no embalo
Até casa rapariga.
6
AGLIBERTO BEZERRA
Essa peleja está boa
Pois você é caprichosa
Eu confesso que soltei
Uma risada gostosa
Pra manter acesa a chama
São Gonçalo tem é fama
De casar mulher idosa.
7
DALINHA CATUNDA
São José é seletivo
Santo Antônio não tem dó
Apelei a São Gonçalo
Não vou ficar velha e só
O santo não me casou
Contudo me amancebou
Não fiquei no caritó.
8
AGLIBERTO BEZERRA
O importante é o amor
Seja em qualquer união
Quando nela há respeito
Carinho e dedicação
E para ser duradoura
Santa Rita é a intercessora
Pra dar harmonização
9
DALINHA CATUNDA
Não é por não ser casada
Pois eu não me ligo ao rito
Que deixei de ser feliz
Fiz um caminho bonito
Fiz filhos sem me casar
E vi minha mãe gritar:
Valei-me São Benedito!
10
AGLIBERTO BEZERRA
Benção de Deus, acredito
Lhe deu filhos pra cuidar
Pois quem quer graça divina
Pra poder engravidar
Basta pedir a um anjo
O São Gabriel Arcanjo
Que ele vai lhe ajudar.
11
DALINHA CATUNDA
O anjo que apareceu
Foi a minha salvação
Deu rumo a minha vida
Deu-me filho e proteção
Com ele eu sou feliz
Às vezes é São Luiz
Outras São Sebastião.
12
AGLIBERTO BEZERRA
Cada Santo tem um jeito
De atender nossos pedidos
Se nós pedirmos direito
Seremos sim atendidos
Só caprichar na promessa
Também não ter tanta pressa
Que eles serão respondidos.
13
DALINHA CATUNDA
Um tempo andei fazendo
Promessa de todo jeito
Mas peguei uma mania
De não pagá-las direito
Agora pra não pecar
Eu faço, mas pra pagar
O agraciado, me ajeito.
14
AGLIBERTO BEZERRA
A promessa bem cumprida
Deixa o Santo satisfeito
Dá margem ao protegido
Solicitar novo pleito
Pois o Santo dá a graça
É o bom que a amiga faça
O que prometeu direito.
15
DALINHA CATUNDA
O Diabo é que me meti
Promessa doida a fazer
Escada que não tem fim
Subir sem água beber
Do meu chão a Canindé
Pagar a promessa a pé
Sem poder me maldizer.
16
AGLIBERTO BEZERRA
Eu com dez anos de idade
Com o corpo paralisado
Tia Sinhá fez promessa
Pra ele ser destravado
Foi dura a caminhada
Dez quilômetros na estrada
Me deixou estrupiado.

17
DALINHA CATUNDA

Eu era muito levada
E mamãe pra se livrar
Fez foi mais de mil promessas
Para depressa eu me casar
A coisa saiu errada
Eu saí desembestada
Me danando a namorar.
18
AGLIBERTO BEZERRA
Era a vida diferente
Do que se vê por agora
Hoje o filho faz quarenta
O pai quer botar pra fora
Fica num canto amuado
Finge não ter escutado
De casa não vai embora
19
DALINHA CATUNDA
Mas eu sempre tive asas
E vontade de voar
Nunca me faltou coragem
Para o mundo enfrentar
Escrevi minha história
A luta não foi inglória
Estou aqui para contar.
20
AGLIBERTO BEZERRA
A tua história é sublime
És cordelista imortal
Tem na veia o dom da rima
Poetisa sensacional
Que para nossa cultura
Entre as melhores fulgura
No cenário nacional.
21
DALINHA CATUNDA
Acho que fui premiada
Com o dom da inspiração
Do verso eu faço a estrofe
Da estrofe a oração
Criei-me nesse universo
Minha paixão pelo verso
Foi a minha redenção.
22
AGLIBERTO BEZERRA
Eu também fui premiado
De embarcar nessa aventura
O verso paira na mente
A rima flui sem frescura
Se for pra fugir do tédio
A poesia é meu remédio
Que minha doença cura.
23
DALINHA CATUNDA
Santo Antônio foi culpado
Dessa nossa cantoria
Tudo começou com ele
E saiu como eu queria
Pra ficar pronto o cordel
Basta passar pro papel
Agradeço a parceria.
24
AGLIBERTO BEZERRA
Dalinha muito obrigado
Pela parceria aqui
Tu és cria do sertão
E eu aqui do Cariri
Nosso cordel vai pras feiras
Tanto na tua Ipueiras
Quanto no meu Mauriti.
*
Peleja virtual entre Dalinha Catunda e Agliberto Bezerra.

2 comentários:

" R y k @ r d o " disse...

Poeticamente fabuloso
.
Cumprimentos

Anônimo disse...

Eu não sei se a malícia está em mim ou está na Dalinha . Só sei que os seus versos são deliciosos