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quarta-feira, 25 de abril de 2007

O jumento do Maurício


Maurício você que gosta,
Tanto de prosear,
Vou contar uma história,
Não sei se vai gostar.
Foi o nego de Maria,
Que contou pra eu escutar.

Só sei que esse episódio,
Num instante se espalhou.
Do dono envergonhado,
E do jumento vingador.
Eu só estou relatando,
O que o nego me contou.

Este caso que eu conto,
Em Ipueiras se deu.
Lá pras banda da floresta,
A tragédia aconteceu.
Com o jumento de Maurício,
Velho conhecido meu.

Maurício andava aperreado,
Com as andanças do seu jumento.
Foi quando lhe veio a cabeça,
Um maldito pensamento.
Só capando este animal,
Vai ter fim o meu tormento.

Os vizinhos reclamavam,
Daquele jumento vadio.
Que quebrava todas as cercas,
Ao ver uma fêmea no cio.
Vender, Maurício não queria.
Seu bicho, não negocia.

Seu Juarez e Cristiano,
Fizeram reclamação,
Do bicho lá no roçado,
Comendo milho e feijão.
O jumento era uma peste,
Era o capeta, era cão.

Dona Maria Prevenida,
Arranjou uma baladeira.
Quando via o bicho viçando,
Sua pedrada era certeira.
Ele encolhia o que esticou.
E desembestava na carreira.

Manoel Ota certo dia,
Chegou a passar mal,
Quando viu o tal jegue,
Rondando o seu curral
Pra proteger suas vacas,
Tangeu o tarado com um pau.

O jumento continuava
em sua peregrinação,
atrás das bestas nos matos,
nas andanças pelo sertão.
Nem um dia de serviço,
Dava mais ao seu patrão.

O jegue endoideceu,
Perdeu de vez o respeito.
Pegou a égua de Zeca,
Sem pena passou nos peito.
A coitada escambichada,
Anda agora com defeito.
.

Esse bicho não tem jeito,
Isto é caso de polícia.
Ou capo esse jumento,
Ou vou acabar na justiça.
Quem chama isso de jegue,
Não sabe o que é mundiça.

Com o pensamento na cabeça,
danou-se a matutar:
_capo hoje ou amanhã,
ele não vai me escapar,
e o que eu tirar do seu saco,
pros cachorros vou jogar.


Maurício pegou a estrada,
Cheio de indignação
Foi laçar seu animal,
Perto do bar do Carlão,
Aproveitou e tomou uma,
Pra aturar seu garanhão.

O jegue voltou triste,
Sabendo o que lhe esperava.
Não demorou meia hora,
Mauricio o bicho capava.
Com dor no pissuidos
O jumento relinchava.


Só sei que o bicho sarou.
Mas, sempre jurando vingança.
Engordou ficou vistoso,
Criou peito,criou pança,
Quando anda se requebra,
Até parece que dança.

A revolta do capado,
Cada dia ficava maior.
Sua tristeza era grande,
Dava pena, dava dó.
E a situação de Mauricio,
Não sei se ficou melhor.

Pra vergonha de Mauricio,
Que era feliz outrora,
O jumento que era macho,
De repente virou boiola,
E é na porta de casa,
Que ele dá, relincha e chora.

O bicho perdeu os bagos,
Mas não perdeu o tesão.
Vive a castigar seu dono,
Depois da judiação,
O terreiro de Maurício,
Virou uma esculhambação.

Dizem que dona Toinha.
Depois da infelicidade.
Vive com as portas trancadas,
E pensa em mudar pra cidade.
Se Maurício não der um jeito
Ela muda de verdade.

Aninha pegou o beco,
Nino correu atrás.
Dizendo que aquele jegue,
Tinha parte com o satanás.
Com aquela sem-vergonhice
Ali não voltava mais.

Mas, parece que Maurício
Acostumou-se com a situação.
Há quem diga que ele gosta,
Daquela esculhambação.
E pretende cobrar ingresso,
Por cada exibição.

Maurício eu lhe dedico
A história que contei.
Sou sua amiga Dalinha.
Das suas graças eu sei.
Perdão se nesses versos,
Eu fui um tanto sem lei.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Histórias De Tia Isa


Hoje dia nacional do livro infantil bateu forte em meu peito, as saudades, do interior, das calçadas, dos alpendres, e da maior contadora de história, patrimônio cultural, da cidade de Ipueiras, minha tia: Isa Catunda de Pinho
Nascida e criada na Cidade de Ipueiras, em 13 de maio de 1911, carrega hoje, uma imensa bagagem, de quem nas páginas dos livros viajou o mundo inteiro.
Essa viagem cultural, era pouco para ela, queria muito mais, e feito uma fada com seus pozinhos mágicos ela conseguia repassar esse mundo encantado, das lendas, dos contos de fadas, a meninada, que hipnotizada com as mágicas palavras, faziam rodas e mais rodas para escutarem as fantásticas histórias da Tia Isa.
Se Hans Christian Andersen encantou o mundo com suas maravilhosas histórias como: “O Patinho Feio”, “A Pequena Sereia” e “O Soldadinho de Chumbo”, seguindo o mesmo exemplo, nos encantou Monteiro Lobato, criador da literatura infantil no Brasil com suas histórias genuinamente brasileiras, entre elas “O Pica-Pau Amarelo”, “O Saci”, “Reinações de Narizinho”, “O Marquês de Rabicó”, Minha tia Isa não deixou por menos, encantando gerações e mais gerações com a magia de suas histórias. Como: “O Gato De Botas”, “Moura Torta”, “Gata Borralheira” e tantas outras
Nunca pude esquecer a história da madrasta que enterrou duas crianças vivas, num jardim. Tinha uma parte que era contada em versos e dizia assim: Jardineiro do meu pai/ não me corte meus cabelos/ minha mãe me penteou/ minha madrasta me enterrou/ pelo figo da figueira/ que o passarinho beliscou.
Hoje tia Isa tem seus 96 anos, de uma lucidez, invejável, ainda lê, e ainda conta velhas histórias. Adora ampliar seus conhecimentos lendo novas histórias. Seu presente preferido é um bom livro.
Sempre tive o sonho de ter uma biblioteca em Ipueiras, há anos guardo livros, e se um dia eu chegar a realizar esse sonho. A biblioteca receberá o nome De minha tia. Muito dos livros que tenho, são repassados por ela.
Além de ter uma profunda admiração, por essa mulher, tenho uma imensa gratidão pois um bom leitor se faz em criança. O professor por vocação, traz em sua bagagem o dom de encantar, mas esse encantamento é uma conquista de poucos, e minha tia não ocupou apenas uma cadeira, ocupa até hoje, o coração de seus alunos, que para ela não eram apenas um número tinham nome e endereço.

terça-feira, 17 de abril de 2007

SAUDADES DE IPUEIRAS



Saudades de Ipueiras

Ipueiras dos meus tempos,
Como posso não lembrar.
Do Cristo de braços abertos,
Dos banhos no Jatobá.

Dos passeios na avenida,
Dos namoros ao luar.
Da bandinha anunciando,
Os festejos do lugar.

Das mensagens que eu ouvia,
Na rádio Vale do Jatobá.
Quase sempre oferecida,
Por quem dizia me amar.

Das quermesses, das novenas,
Como posso me esquecer.
Do toque da alvorada,
Embalando o amanhecer.

A procissão que passava,
Levando a santa no andor.
E o povo compenetrado,
Cantando em seu louvor.

Ecoa em meus ouvidos,
Saudoso aquele grito.
Do menino que passava,
Com a tábua de pirulitos.

Olha o pirulito! Gritava,
Com sua tábua na mão,
E assim adoçava a infância,
Daqueles tempos de então.

Cadê o seu Zeca Bento,
Com sua calçada cheia?
Cuspindo numa latinha,
Toda forrada de areia.

Era a roda mais famosa,
Que existia em nossa aldeia.
Debatia-se qualquer assunto,
De política a vida alheia.

E o seu Idálio? Era tido
Como o doutor do lugar.
Remédio para o corpo e a alma,
Só ele sabia passar.

Figura saudosa e marcante,
Era o velho Camaral.
Mestre em puxar cordões,
Nos bailes de carnaval.

O carnaval de Ipueiras,
Tinha a sua tradição.
De dia brincavam na rua,
De noite era no salão.

O testamento do Judas,
As fogueiras de São João,
São saudades permanentes,
Juntamente com o chitão.

Quem não chorou ou sorriu,
Na praça da estação,
Esperando o trem que passava,
Levando e trazendo paixão.

Os banhos de açude!
Meu Deus! Que animação.
Às vezes no Pai Mane,
Outras no Lamarão.

Ah! Tempos maravilhosos.
Oh! Doces recordações.
Tempos de seresteiros,
De donzelas, de canções.

Migrante



Migrante

Sou das águas retiradas.
Sou do sertão nordestino.
Das caatingas desertei,
Lamentando meu destino.
Pois deixar o meu torrão,
Machucava-me o coração
Causando-me desatino.

Meu dialeto sagrado,
Era motivo de riso.
Era uma rês desgarrada,
Mas seguir era preciso.
Pedi a Deus proteção,
E virgem Conceição,
Para me dar mais juízo.

Não reneguei minha terra,
E jamais renegarei.
De ser filha do Nordeste,
Sempre me orgulharei.
Lamento até ter perdido,
Aquele sotaque antigo,
Que de lá eu carreguei.

Na minha casa nova,
Onde hoje brilha o chão,
Num canto especial,
Avista-se um pilão,
Em outro canto uma rede
Onde embalo com sede,
As saudades do sertão.

Tapioca com manteiga,
Não deixo de comer não.
Numa panela de ferro,
Faço um gostoso baião.
Cabeça de galo e mal-assada,
São iguarias apreciadas,
Com gosto de tradição.

Rezo pra são Francisco,
E padre Cícero Romão.
Pra proteger Ipueiras,
Meu pequenino rincão
Pois é lá minha ribeira,
Onde a linda carnaubeira,
Ao vento lança canções.

Eu vim sem querer vir
Fiquei sem querer ficar,
Mas um dia ainda volto,
A morar no meu Ceará.
Longe da terra amada,
Serei sempre ave arribada
Voando tentando voltar.