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quarta-feira, 30 de abril de 2008

SER / TÃO MULHER





SER/TÃO MULHER

Tempo de fauna no cio,
E de flora em floração.
A menina flor do agreste
Em tempos de reinação.
Rolando no chão sagrado,
A luz dum sol encarnado,
Lasciva, marca seu chão.
*
Era tempo de floradas,
Sol a pino, céu azul,
O cheiro que se espalhava,
Era da flor do caju
Seu rosto estava corado
Tal fruto avermelhado
Que dá no mandacaru.
*
Debaixo dum cajueiro
Solo inculto do sertão,
Num leito de folhas secas,
Sua seiva regou o chão
Viu estrela, escutou sino,
Era o "debout" nordestino,
De uma flor em botão.
*
Seu corpo e a natureza,
Tinham a mesma Harmonia
Era uma rês brejeira
Que o campeiro seduzia
Cavaleiro joga o laço,
E corre para o abraço
De quem não escaparia.
*
E foi à sombra da árvore
Que desabrochou a flor
Ao sentir-se atravessada
Pela espada do amor
O canto da passarada
Que coroava a jornada
Estimulava o ardor.
*
Tão cúmplice da paixão
O frondoso cajueiro,
Que teve a virgem nativa
Deitada em seu palheiro
Botou frutos encarnados
Em vez dos amarelados
Como era costumeiro.
*
Versos de Dalinha Catunda

terça-feira, 29 de abril de 2008

EU O MENINO E O ARCO-ÍRIS


Imagem:blog,ongsperanca


Eu, o menino e o arco-íris

Mora no meu passado um menino bom, doce e tímido, que conviveu comigo enquanto o destino deixou.
Era um menino do interior.
Assim como eu, não se encaixava nas regras impostas e hipócritas de uma pequena cidade.

Fomos crianças e adolescentes juntos. Quando íamos a bailes e tertúlias atraíamos a atenção de todos, pois apesar da timidez, no salão ele se soltava. Éramos um par perfeito em qualquer tipo de dança.

Muitos foram nossos passeios de bicicleta nos finais de tarde. Realmente não posso dizer que ele foi apenas um bom amigo, na realidade foi um parceiro sem igual.

Nós crescíamos e a cidade cada dia ficava menor para ambos.
Eu cresci e multipliquei, e fui expulsa do paraíso.
E ele, sonhava atravessar o arco-íris.
Não cabíamos mais na cidade e partimos para outras paragens. Lá deixamos a magia de nossos pés dançantes e nossa história singular.

Com as asas de sonhadores voamos atrás de novos caminhos onde o clima fosse favorável à vida de predestinados.
Na minha caminhada vitoriosa ganhei status de poetisa e os aplausos da cidade.

Ele poderia ter ido só até o final do arco-íris, pegar o pote de ouro para pagar seu resgate, caso fosse capturado. Mas não, maravilhado com o colorido do outro lado, com as luzes e o brilho que iluminavam sua alma, não teve dúvidas, atravessou o arco sem medo, assumindo de vez sua transformação e sem vontade de ser resgatado.

E foi entre luzes, purpurinas, véus e fumaça que freneticamente, sem se incomodar com o lado preto e branco que antecede o arco íris, que ele se entregou a sua vocação e a sua opção de vida.

O portal das circunstâncias nos separa, porém permanece a amizade, independente de qual dos lados do arco, ele possa se encontrar.

E toda vez que vejo uma grande passeata, exibindo a imensa bandeira em forma de arco-íris, entusiasmadamente aplaudo meu amigo, e solto um solene, evoé !!!!!

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Solo Sagrado


Foto: Ipueiras vista do alto do Cristo Rei

Solo Sagrado

Ipueiras chão venerado
Meu regalo, meu calor.
Berço sagrado da infância
Da mocidade o esplendor
Musa dos meus poemas
Canção maior de amor.

O rio que lambe teu seio,
Em meu coração desaguou.
Invadindo-me as entranhas,
De saudades me emprenhou.
Saudades que não aborto
Pois me fazem parir amor.

Parece que estou vendo,
Fremente teu carnaubal.
Fazendo acenos ao vento
Num requebro sensual.
Ventos idos me enlevam,
E me levam a terra natal.

Vagueia por minha cabeça,
Um tempo bom que passou.
As travessuras da meninice
O resplandecer do amor
Primícias deveras marcantes
Que o tempo não apagou.

Saudade toca-me a alma
Invadindo todo meu ser.
Suspiros enamorados
Não tardam a aparecer,
Evocando o solo sagrado,
Terra que me viu nascer.

terça-feira, 22 de abril de 2008

O Medo da Picadura



O Medo da Picadura

Depois de uma exaustiva viagem de avião, do Rio de Janeiro a Fortaleza. Peguei a estrada rumo a Ipueiras.
Edmilson um velho conhecido, que faz a linha Fortaleza-Ipueiras, foi apanhar-me no aeroporto em sua topic, como antes havíamos combinado.

Dei graças a Deus quando ele chegou, pois sempre pinta um probleminha em minhas constantes viagens de topic. Ou não tem mais lugar, não vai sair hoje, ou, você pode ir, mas não tem espaço para a bagagem que, diga-se de passagem, nunca é tão pequena.

Mas dessa vez tudo se encaixava direitinho. Meu filho Luiz Henrique ia no banco da frente batendo papo com Edmilson e eu, bem acomodada entre as mulheres na parte detrás.
No rádio um sonzinho legal deixava a viagem mais agradável. Entre um forrozinho e outro, um bate papo para colocar os assuntos em dia.

No decorrer da viagem íamos sendo “agraciados” com solavancos em conseqüência dos buracos que nos é concedido pelo descaso e a incompetência do poder publico. Assim sendo, cochilar, nem pensar.

Tudo bem, qualquer sacrifício é bem suportado quando a finalidade é chegar à terra amada, onde tenho minha família, minha história de vida e meus negócios.

Ainda não havíamos chegado a Canindé, santuário de São Francisco da Chagas, onde obrigatoriamente fazemos uma parada para um lanche e esticar as pernas e até para uma rezinha, quando o inusitado aconteceu:

Um grito agudo cortou o começo de noite assustando motorista e passageiros. A topic balançou de um lado para o outro quase saindo da estrada.
Adivinhe de quem era o grito? MEU!!!!!

Um cavalo-do-cão achou de fazer marmota naquele dia pousando em meu ombro. O grito que apavorou passageiros era apenas o começo da sucessão de gritos que soltei enquanto o inseto voava em minha volta
Sério! Não borrei as calças porque não tinha material disponível.
O carro andava e eu lutando com “o coisa ruim”, até que consegui pegar o tamanco e prendê-lo contra o banco do carro.

Nisso Edmilson pega o acostamento para retirar o intruso. Assim que ele para, eu tento arrumar um jeito de soltar o inseto sem correr riscos, mas ao afrouxar a pressão que eu fazia, ele novamente voou em minha direção, dessa vez o berro bateu todos os recordes.
__ Picou Dalinha?__perguntava Edmilson apavorado.
__Picou não! Mas saiu zunindo. E se veio trazer recado do diabo voltou com ele.
Só sei que o escândalo foi grande, mas o medo da picadura foi maior. Não sei se seria diferente, se o alvo fosse outra pessoa. Pois a fama do bicho não é das melhores.

Reza a lenda que ele serve de mensageiro do diabo nos rituais de magia.
Dizem também que sua picada é fatal. Picando não tem cura.
E o meu único jeito era espantar o cavalo-do-cão no grito.

lustração:fotografos.com.br

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Toque dos Digitais



Toque dos digitais
Dalinha Aragão

Estava eu tão distante,
e assim mais ficaria.
Não fosse tua habilidade,
não fosse tua magia.
A senha, sabias de cor,
faltava a digitação.
Convencida entreguei-me,
comandastes a operação.
Ao toque dos digitais,
um novo mundo se abriu.
Janela escancarada,
o gozo em pleno abril.
Onde se lia aguarde ...
Um concluído surgiu.

Poema publicado no jornal "O Povo" de Fortaleza-Ce
Imagem do: tecnologia.terra.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Dengue em Cordel


O Fim da Picada

Quem diria minha gente,
Eu nem posso acreditar,
A picada de um mosquito
Hoje é arma de matar
E a saúde decadente
Não consegue nos salvar.

Vejo famílias chorando
A morte de entes queridos,
Que partem na flor da idade,
Não há nada mais sofrido.
O descaso contagioso
De morte nos deixa ferido.

Morrem adolescentes,
Criança, idoso e mulher.
A doença é uma praga,
É um salve-se quem puder,
E a culpa meu amigo,
Ninguém sabe de quem é.

Nem São Jorge nem espada
Nos salvará nessa hora.
O negócio e ir à luta
De pressa e sem demora,
O caminho é a prevenção
Pra esse mal que apavora.

Não deixe pneu jogado,
Não jogue latas no chão.
Caixa d’água destampada,
Ajuda na proliferação.
Não deixe água parada,
Evite a contaminação.

Nas plantas de sua casa,
Tenha um cuidado maior.
Pondo areia nos pratos
Tudo ficará melhor
Desalojando o mosquito
O perigo é bem menor.

Não caia nos milagres
Da igreja universal.
O óleo santo oferecido
Jamais vai curar seu mal
Quando muito ele serve,
Pra lustrar cara de pau.

Se óleo santo servisse
Serviria água benta.
E a igreja católica
A receita não apresenta.
Por isso fique esperta.
A receita é ficar atenta.

Se sentir dor de cabeça,
E dor nas juntas também,
Mal-estar ânsia de vômito,
Não espere por ninguém,
Antes que a febre chegue,
Vá ao médico, pro seu bem.

Tome bastante liquido,
Que evita a desidratação
Na base do acetilsalicílico
Remédio não tome não,
Assim dizem os médicos,
Interfere na coagulação.

A população padece
A situação é dramática
Temos a hemorrágica,
Além da dengue clássica.
Precisamos com urgência
De uma medida drástica

Usar um repelente,
É uma boa medida.
Mas isso não quer dizer,
Que você está protegida.
É apenas um paliativo
A se usar nessa corrida.

Receba bem os guardas,
Que fazem à varredura,
Abra as janelas ao “fumacê”
No mosquito dê uma dura.
Ajude aos que combatem
Para evitar amarguras.

Cuidar da nossa saúde,
É mais que obrigação.
Também devemos cobrar.
Aos que dirigem a nação.
Que nos devem casa, comida,
Saúde, segurança e educação.

A quem pertence o mosquito?
Não sei, nem quero saber.
Só sei que é o fim da picada,
Por causa dele morrer,
Sabendo que justas políticas,
Poderiam nos socorrer.

O aedes aegypti taí
A dengue está no ar.
Precisamos combater,
A picadura mortal,
E a picaretagem política
Que é nosso maior mal.


Imagem retirada do: commons.wikimedia.org

domingo, 13 de abril de 2008

Vovó Ana do Arroz

Conto publicado originalmente no Diário do Nordeste em 13-04-2008 VOVÓ ANA DO ARROZ
Fazia dias que vovó Ana acordava sem sua costumeira alegria. Uma angustia imensa invadia o olhar daquela terna criatura, deixando amigos e vizinhos aflitos.

Pelo vermelho dos olhos, notava-se que andava choramingando pelos cantos.
Não demorou muito tempo e a notícia se espalhou.

Vovó Ana estava de mudança para a Capital. Ali no Arroz, seu pequeno lugarejo, ela vivia bem. Tinha uma casinha pequena, um bom quintal, onde criava suas galinhas.

A filha de vovó Ana, pré-supondo que ela não teria condições, pelo avançado da idade, de continuar vivendo sozinha no Interior, resolveu arrastá-la para a cidade grande. Lá, teria conforto, bons médicos, companhia da filha, do genro e dos netos.

Se não aceitou tudo de bom grado, vovó Ana também não se lastimou, enfrentou com dignidade a sua sina. Tudo já estava decidido, cabia a ela apenas vender seus poucos pertences e fazer a mudança de vez.

Só que, aquela doce vovozinha tinha uma grande paixão por suas galinhas. A família, composta por um galo e dez galinhas, nunca a deixou falando sozinha.

O galo se chamava Trontim e as galinhas todas tinham um mesmo nome, Veaninha. Todos atendiam prontamente aos chamados da boa velhinha. Só comiam em bandejas. Durante o dia, milho, à tardinha, arroz.

Com os olhos mareados, presenciei a parte mais comovente deste episódio. A entrega das galinhas vendidas.Vovó Ana, num fiapo de voz, chamava as aves que, uma a uma, vinham à sua mão, e em seguida eram entregues à compradora.

Ainda escuto ecos daquela voz meiga e carinhosa chamando suas aves:
-Vem, Trontim! Vem comer um “milhim”.

Saí triste daquela casa ao testemunhar o desencanto e a tristeza de Vovó Ana.Não voltei mais lá... Mas soube notícias do choro daquela doce criaturinha, que estava prestes a deixar o lugar que por muito tempo foi seu ninho, sua vida e sua felicidade.

Vovó Ana é daquelas que falam com os bichos e também é entendida por eles.

Que tal, se nós, ditos racionais, dialogássemos mais com nossos queridos velhinhos e os entendêssemos melhor?

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Períneo e Curíneo

Foto retirada do blog efeitoscolaterais.

Períneo e Curíneo

Ipueiras é uma pequena cidade do interior do Ceará onde uma das famílias predominantes, é a família de Aragão.

Duas fortes características acompanham essa família. Uma, eu até diria, persegue, é o tal do nariz de batata. Há os que são agraciados com pequenas batatas e outros castigados com batatas imensas. Mas nada disso vem ao caso, pois quando envelhecem, inevitavelmente, o nariz se dana a crescer e se espalhar pela cara numa desgraça anunciada.

O pior é quando chega alguém perto de você, e pergunta assim:
--- “Tu é Aragão, num é”?
Ah! Ia esquecendo de dizer, sou Aragão! mas com narizinho de Catunda e espero que para todo o sempre.

Bom, a outra característica é a veia cômica e a resposta na ponta da língua.
Mesmo não sendo tão original, já ouvi uma prima de farto nariz, responder uma afronta
à altura.
A irônica desprovida de nádegas chegou para minha prima e falou:
__ Que narigão em amiga? __ na bucha ela respondeu: __ O que sobra no meu nariz, falta na tua bunda.

E assim é Aragão, nunca perde o rebolado.
E foi justamente com uma Aragão da cidade de Ipueiras que se deu esse caso bombástico.

Minha tia Ideltrudes, trabalhava no hospital da cidade. Digo trabalhava, porque depois desse epsódio fatídico, ela pediu afastamento por tempo indeterminado, requerendo logo em seguida sua aposentadoria proporcional.

Voltando ao caso:
Certo dia, servindo o doutor de plantão sentiu fortes dores no pé da barriga. O que não passou despercebido pelo tal médico.
__ Dona Idel, a senhora precisa fazer uns exames, aproveite que estou aqui, e já posso adiantar isso.
Minha tia não pensou duas vezes e preparou-se para o tal exame que logo em seguida foi feito. E no ato, anunciado o resultado.
__ É dona Idel... A senhora vai ter de fazer períneo.

Depois do anunciado, minha tia colocou o jaleco novamente e voltou a trabalhar normalmente.
Nisso lhe pede o doutor: dona Idel, quer me ver essas fichas que estão na parte baixa da estante? __ pois não doutor.

Quando ela agachou-se para pegar as fichas, soltou um estridente pum. Imediatamente e espantadamente seus olhos e os do doutor se cruzaram, e ela que não sabia o que dizer, naquele momento, saiu-se com essa: É doutor... acho que vou ter que fazer curíneo também.

terça-feira, 1 de abril de 2008

E Por Falar em Primeiro de Abril.

Texto publicado no Jornal O Povo em:19-01-2008

A Porquinha de Estimação

Naquele dia lá pras bandas das Barreiras o céu amanhecera cinzento.
Para seu Chico, a coisa estava preta.
Morador do seu Expedito, homem de confiança, há muitos anos morando naquelas terras.
E agora ?
Sempre deu conta do recado, mas por essa não esperava. O jeito era contar para o patrão o sucedido.
Encheu-se de coragem.
Montou seu cavalo e partiu para a cidade. Lá chegando tratou de relatar o que lhe afligia :
--- Patrão, o caso é o seguinte, não vá se aperrear. Sua porca de estimação, sumiu sem rastro deixar. Já fazem três noites e três dias que eu procuro sem achar.
Seu Expedito ficou chateado, com aquela situação.
Muitas vezes aquela porquinha salvava a situação, quando vendia suas crias, tinha dinheiro na mão.
Andou um tempo aborrecido, e sem voltar as Barreiras. Depois pensando bem, achou que aquilo era besteira.
Conformado com a situação, pegou seu patuá, espingarda, cartucheira e rumou pras suas terras.
Tava tudo tão verde, tão bonito ... e ele ficou por um instante parado admirando a paisagem.
De repente, uma grande mancha amarela chamou sua atenção.
Chegou mais perto, e parecia um jerimum gigante. Mas não podia ser pois um imenso buraco negro tomava conta de um dos lados do suposto jerimum.
Por via das dúvidas, chegou mais perto.
Era um jerimum gigante, sim.
E o buraco negro ?
Não foi tão corajoso. O buraco parecia se mexer.
Achou por bem ir a casa de seu Chico e pedir ajuda.
Voltou ele, seu Chico, carregando uma vara grande de bambu.
De longe cutucaram o buraco, e pasmem ! De lá saiu a porquinha e, onze porquinhos, que desfilavam graciosamente atrás da mãe.
Não preciso falar, do tamanho da alegria do seu Chico e do seu Expedito. Diante do achado inusitado.