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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

SECA NÃO É CHORO DE POETA

Foto em Ipueiras no Ceará

SECA NÃO É CHORO DE POETA
*
Se seca fosse só lenda
Ou canto de nordestino
Bardo chorando o destino
Em rimas numa contenda
Para ganhar grana ou prenda,
O que avistei no sertão
Seria só ilusão,
Loucura de minha mente,
Que com certeza demente
Só ver alucinação.
*
Você que fala em progresso,
Projeto de irrigação
Vá visitar meu torrão
Porque lá terá acesso
Ao mais penoso processo
Duma seca de amargar,
Gado querendo pastar,
Açude virando lama
E quando um vate reclama,
O doutor chega a zombar.
*
O orvalho ao amanhecer
Alegra o olhar cansado
Do camponês esforçado,
Que nem sabe o que fazer,
Vendo o sol resplandecer,
De água só seu suor
O mundo já foi melhor
Diz olhando para o céu
E abraçando seu chapéu
Da vida espera o pior.
*
Por isso caro doutor
Faça um trabalho de campo
Pegue com gosto no trampo
Eu lhe peço, por favor,
Só assim vou dar valor
As lições que você dita
Conheça nossa desdita
Para dar opinião
Visite o meu sertão
Não queira só fazer fita.
*
Texto e foto de Dalinha Catunda

terça-feira, 27 de novembro de 2012

NOTA DE PESAR

Espedito Catunda


MEU ADEUS A MEU PAI
Quando saí de Ipueiras me despedi de você. Notei que Jesus lhe chamava, isso eu bem pude ver. Lhe abracei, lhe beijei e você me reconheceu, mas ali eu já sabia, era meu último adeus.
Minha irmã lhe avisou que eu estava para voltar e você respondeu: “Ainda vai dar tempo de eu ver ela”
Deu tempo, sim meu pai! Você foi com o meu beijo, você foi com meu abraço e aqui fico eu, com meu choro, com minha saudade e minha dor.
E o que eu posso dizer para o senhor? O que sempre ouvi de sua boca: SEJA FELIZ!!!
Dalinha Catunda

PASSE A VARA NA RABECA!

Niko tocando no programa de seu Zezé
PASSE A VARA NA RABECA!
*
Já estou me preparando
Para ver um show no Crato.
Se Niko não for ingrato
Com Miguel solicitando,
Talvez acabe tocando
Junto com o mestre Zeca,
Que dança c’uma boneca,
Na hora de se exibir
A Niko eu vou é pedir:
Passe a vara na rabeca!
 *
Vamos logo Nicodemos
Que a festa vai começar
Sei que o bicho vai pegar
Atrasar nós não podemos,
Porém já que resolvemos
Tome banho e ponha a beca
Bote o chapéu na careca
Que o povo vai aplaudir
A Niko eu vou é pedir:
Passe a vara na rabeca!
 *
 Autêntico rabequeiro,
Também músico e poeta,
Niko tece sua Meta
Em Crato e no Juazeiro,
Mas vai pro Brasil inteiro
E segurando a peteca!
Quando sai com sua reca
Eu falo sem discutir,
A Niko eu vou é pedir:
Passe a vara na rabeca!
*
Chegou Bastinha Job para o show de Niko
Essa rabeca do Niko
de vara é muito famosa
conhecida e preciosa
nunca engancha ou paga mico
só se ouve o paparico
num som levado da breca
se tem dólar na cueca
ligeirinho vai cair:

A NIKO EU VOU É PEDIR
PASSE A VARA NA RABECA

*
Aldemá de Morais também chegou
Eu já vi Niko tocando
É mesmo de admirar
Niko toca, Niko canta
Com a vara prá lá e prá cá
Vara sobe, vara desce
A rabeca já faz prece
Pra Niko, a vara parar.
*
Também veio Fred Monteiro
Um amigo leu a estrofe
e à Dalinha perguntou
E se fosse na Rebeca
que Niko a vara acertou?
Eu então me inquiriria
Rebeca é uma judia
E o pai dela se "ouriçou"

*
Mas, Rebeca ia gostar
muito dessa cutucada.
E Jacó seu velho pai,
ia dar uma relembrada:
-Rebeca lembre que a vara,
como diz sua mãe Sara,
tem que estar circuncidada !
 Texto e foto de Dalinha Catunda + versos de poetas convidados

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O PINTO ENJEITADO



O PINTO ENJEITADO

Eu vi Renato chegando
Trazendo um pinto na mão,
E dizendo que o bichinho
Precisava de ração,
Porém quando olhei de lado
Que vi o pinto pelado
Quase solto um palavrão.
*
Disse-me que todo galo
Já foi pinto no passado
Alisando sua penugem
Olhava para o meu lado
Eu morrendo de gastura
Diante da criatura,
E vendo o pinto alisado.
*
Se galo um dia foi pinto,
Isto não quero saber,
Só vou botar a mão nele,
Se o bicho desenvolver
Por isso leve seu pinto
Pelo que vejo e pressinto
Este aí não vai crescer.
*
Renato contrariado,
Saiu sacudindo pinto
E mesmo bem desgostoso
Adentrou outro recinto
O pinto mesmo encolhido
Por outra foi acolhido
Mesmo não sendo distinto.
*
Texto e ilustração de Dalinha Catunda

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

DALINHA E JOSENIR NUM CANTO DE SAUDADE





 Dalinha Catunda e Josenir Lacerda, num canto de saudade

“Hoje morro de saudade
Das coisas do meu sertão”
Mote de Dalinha Catunda
Já saltei muita fogueira
Trazendo fita nas tranças
No meio daquelas danças
Gostava da brincadeira
Muito sapeca e faceira
E cheia de animação
Sorria meu coração
De tanta felicidade,
“Hoje morro de saudade
Das coisas do meu sertão”
Dalinha Catunda
*
O sol cansado se aninha
No colo do horizonte
Banha de dourado, o monte
E a noite já se avizinha
Nostalgia é ladainha
Que o meu pensamento invade
Relembrando a mocidade
Feito um bater de pilão
Hoje eu morro de saudade
Das coisas do meu sertão.
Josenir Lacerda
*
Josenir Alves Lacerda
Natural de Crato – Ceará, onde reside, filha de José João Alves e Auzenir Amorim da Franca Alves, artesã, funcionária da Teleceará, aposentada. Co-fundadora da Academia dos Cordelistas do Crato, cadeira nº 03 patrono Enéas Duarte e membro da Academia de Literatura de Cordel – ABLC, cadeira  nº 37. Patrono José Soares ( O Poeta Reporter)
Tem cerca de 80 trabalhos publicados, destacando-se “O Linguajar Cearense,” “De volta ao Passado” e “Amedicina no cangaço”

Maria de Lourdes Aragão Catunda – Dalinha Catunda
Nasceu na cidade de Ipueiras sertão do Ceará onde também nasceram os poetas, Costa Matos e Gerardo Melo Mourão, sendo cria do mesmo barro não se intimidou ao cantar sua terra e trafegar pelo mundo da poesia.
Faz recitais, escreve em blogues, jornais e membro da ABLC – Academia Brasileira de Literatura de Cordel ocupando a cadeira 25. É membro correspondente da AILCA – Academia Ipuense de Letras, Ciências e artes.
Contato: dalinhaac@gmail.com
Fotos do acervo de Dalinha Catunda