O Cantinho da Dalinha é também o canto do cordel. O picadeiro onde costumo entoar o meu canto em versos propagando a poesia popular. É o Canto de uma cearense que adora suas raízes, canto da mulher destemida que saiu das entranhas nordestinas e abriu uma janela para cantar sua aldeia para o mundo, Interagir com outros poetas cordelistas desfrutando deste mundo virtual. Sou Maria de Lourdes Aragão Catunda, a poeta de Ipueiras e do cordel, sou a Dalinha Catunda. dalinhaac@gmail.com
Seguidores
domingo, 2 de novembro de 2008
LEVANDO FUMO
LEVANDO FUMO
ELA DEU O TABACO E ELE LEVOU FUMO
Essa vida de bodegueiro,
Não é brincadeira não.
Na venda de fumo de rolo,
Foi a maior confusão.
E quem quase levou fumo,
Foi a mulher do patrão.
Um sujeito todo xistoso
Queria tabaco comprar.
A mulher do bodegueiro,
Que não sabia despachar.
Arrumou uma encrenca
Que depois vou lhes contar.
Primeiro eu vou contar,
A aventura de seu Zé.
Que queria comprar fumo,
Mas sabe como é que é,
Com bodegueiro invocado,
Quase levou ponta pé
Seu Zé chegou à bodega,
Querendo fumo comprar.
Espiou bem os bons rolos.
Chegando a se arrepiar
Diante de tanta fartura.
Bom fumo ele iria levar.
Perguntou ao bodegueiro,
Que atendia no balcão.
Quais os tipos de fumo
Qual a melhor sugestão
O bodegueiro prestimoso
Deu-lhe toda a atenção.
Esse aqui é um fumo bom
Acredite meu senhor.
O freguês cheirou o fumo
E em seguida espirrou.
Pediu outro mais forte.
Aquele não lhe agradou.
O atendente atencioso
Não tardou a lhe ofertar,
Um novo rolo de fumo
Para ele então apreciar,
Dessa vez além do espirro,
Ouviu-se um peido no ar.
Pensando que o espirro,
Conseguira o peido abafar
Pediu ao comerciante,
Um mais forte pra cheirar.
E o bodegueiro alterado
Rasgou o verbo a falar.
Meu amigo francamente,
É bem difícil lhe agradar,
No primeiro você espirrou,
No segundo chegou a peidar.
Se usar um fumo mais forte,
No recinto você vai cagar.
Por isso o senhor se retire,
Antes que eu faça besteira.
Estou aqui trabalhando,
E não sou de brincadeira.
Se quer mesmo levar fumo,
Conheço outras maneiras.
O comprador aperreado,
Foi tratando de se afastar
O bom fumo que ele queria,
Mas não consegui comprar,
De outro fumo diferente,
Não estava ali pra provar.
A mulher viu que marido,
Estava cheio de aflição.
De pressa tomou a frente,
Foi atender ao balcão
Mas novamente pintou
Sintomas de confusão.
Ela pouco experiente,
Ignorando mercadorias.
Escutou de um sujeito,
E achou que era putaria,
Uma pergunta inofensiva
Que o pobre diabo fazia
A senhora tem tabaco?
Perguntou o tal cidadão.
Tenho sim desaforado,
Mas não é pro teu bico não.
Tenha comigo respeito,
Ou então lhe enfio a mão.
Que cara mais safado,
Que sujeitinho atrevido,
Merece boas pauladas,
E tapas no pé do ouvido,
Ou mesmo virar defunto,
Por obra de meu marido.
O cabra arregalou os olhos,
Não entendendo a questão.
Quanto mais ele falava,
Mais vinha complicação.
Queria provar com o dedo,
E era ali mesmo no balcão!
Senhora não estou pedindo,
Eu quero mesmo é comprar.
Se for bem cheirosinho,
Pode até o dobro cobrar.
Que sou viciado em tabaco
E pago o que for pra cheirar
A mulher ficou vermelha,
Estava prestes a explodir.
Indignada com a proposta,
Que acabara de ouvir
A cara do sujeitinho,
Até pensou em partir.
O homem ficou passado,
Sem saber bem o que dizer.
A mulher bufava de raiva,
E ele sem nada entender.
Só por causa de um tabaco
Ela estava a se ofender.
A polícia foi chamada.
Veja só que confusão.
O marido e os filhos,
Bateram no cidadão.
Que queria a todo custo,
O tabaco em sua mão.
Quando a polícia chegou,
Botou ordem na bodega.
E o sujeito com razão,
A sua inocência alega.
E os insultos alegados
Com veemência ele nega.
O freguês ficou parado,
E a mulher falou: Qual é?
Minha senhora só queria,
Umas graminhas de rapé
Um pouquinho de torrado,
E depois eu dava no pé.
Foi então que a polícia,
Marido e filho deram fé,
Chegaram a conclusão,
Que o tabaco era rapé,
Torrado pra se cheirar,
E não bicho de mulher
Por isso meu amigo
Preste muita atenção
Na hora de comprar fumo
E querer tabaco na mão.
Pois acaba levando fumo.
Quem deles faz confusão.
Quando tudo se ajeitou,
E acabou a confusão.
Seu Zé saiu satisfeito
Levando o fumo na mão
E até saiu sorrindo
Com aquela arrumação.
A mulher do bodegueiro,
Depois de se acalmar.
Foi logo dando o tabaco.
Que o moço queria usar.
Daquela hora em diante,
Reinou a paz no lugar.
Se você quer levar fumo,
Ou um tabaco de primeira,
Meça bem suas palavras.
E não vá fazer besteira,
Pois fica sempre na mão,
Aquele que faz asneira.
Imagem retirada do blog:
culturanordestina
Assinar:
Postar comentários (Atom)
6 comentários:
Dalinha, quero manifestar-lhe minha admiração por por tanta sabedoria mostrada neste "Levando Fumo". Ô muié inspirada, sô!
Olá querida Dalinha
Depois das mini-férias (que foram excelentes) e com as baterias recarregadas, estou de regresso. De resto, já tínhamos conversado a este respeito pelo msn... E, de novo, visito o teu blogue, que continua em grande forma. Uma vez mais, muitos parabéns! Espero que também voltes ao www.aminhatravessadoferreira.blogspot.com, que, como sabes, é o meu novo. Já tenho saudades de ti e das tuas visitas. Obrigado.
Qjs
Dalinha de forma metafísica você incorpora neste singelo poema a pureza e a brejerice do povo nordestino. Parabéns pela sutileza.
Eurico, Henrique e Bérson
Obrigada por marcarem sempre presença em meu cantinho.
Um abraço,
Dalinha
Muito, muito engraçado! E que história "tramosa", não? Um dos seus melhores trabalhos.
O fumo de corda da foto, há muito tempo não via um desses.
Um beijo!
Dalinha você é dez. Levando fumo é arretado demais. Conheci seu Blog através do Cultura Nordestina e um comentário seu em meu Blog, e me tornei seu Fã. Cantinho da Dalinha é sensacional.
Postar um comentário