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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O DRAMA DA ÉGUA DA SECRETÁRIA



O DRAMA DA ÉGUA DA SECRETÁRIA
Sou nordestina. Cearense, lá das Ipueiras. Moro no Rio de Janeiro há bastante tempo. Confesso que nunca chegou a me incomodar a diferença de cultura. Mas, de uns tempos para cá, o bicho pegou feio.
Imaginem! Tinha eu um telefone bem simples, que funcionava às mil maravilhas. Nunca me deu aporrinhações, a não ser uns poucos trotes, que respondi à altura.
Inventei de comprar um telefone moderno, com secretária, relógio, redial e tudo a que tinha direito. Tempos modernos... Render-me à tecnologia era o mínimo que eu poderia fazer.
Foi aí que começou o desatino. Empolgada, gravei logo duas mensagens, crente de que tava abafando. Quando me cansava de uma, substituía pela outra. Não sei qual das duas escutou mais desaforo.
Escute só o que minha própria família, sangue do meu sangue, teve coragem de fazer comigo.
Ligou-me mamãe... Não estando eu em casa, a secretária deu o ar da graça. O negócio foi feio. Não se entenderam mesmo, foi um tal de bater telefone, que só vendo.
Minha mãe, ofendidíssima, me liga em outro momento e, num misto de raiva e queixa, solta os bichos:
– Ooora Dalinha, eu liguei pra ti e uma cunhã sem-vergonha falou, falou, e depois bateu o telefone em minha cara. Onde já se viu?! E o pior é que eu acho que conheço aquela voz.
– Mãaaae, é a secretária!
Passou. Não demorou muito, nova encrenca, e tome desaforo. Meu irmão Tony... Achando-me depois de muitas tentativas.
– Dalinha, já liguei umas duzentas mil vezes e nunca te encontro. Eu tô pra mandar aquela tua secretária tomar no ...
– Ô Tony! Pelo amor de Deus, tenha dó!
Novas explicações! Diante de tanta incompreensão, resolvi dar férias a tal secretária, até que as coisas se acomodassem e a novidade fosse digerida.
Fim do descanso, retorno com a secretária.
Em pensamento, digo: Agora vai.
Vai sim, no mesmo rumo... Dessa vez, papai... Queixa grande... E bote carão!
– Que diacho é isso, Dalinha? Ligo, ligo, ligo, toca, toca, toca e ninguém atende. Agora liguei e uma égua véia sem-vergonha me disse que tu não tava em casa. Onde é que nós estamos? Ainda por cima me deixa falando sozinho... Isso é um desrespeito.
– Ô papai, essa “égua véia” sou eu. Sou eu, pai!...
Com Tony e papai me esmerando nas explicações, contornei a situação.
E mamãe? Mulher sentida e de brios...
A história até hoje rende.
Ela diz que tem quase certeza que de que aquela voz era a minha, que nunca vai engolir essa desfeita e jura de pé junto, em tom de queixa, para os outros irmãos que lhe bati o telefone na cara. Durma, com um barulho desses!
Eu, pobre mortal, além de aturar os insultos da família, que mora no Nordeste, tenho que aturar também a gozação de filhos e marido carioca. Pense!



FOTO:apenasumfoca.files.wordpress.com/2009/11/tele

5 comentários:

chica disse...

Que linda e engraçada história, Dalinha!rsrs,...beijos,tudo de bom,chica

chica disse...

Dalinha, anexei ao texto tua interação, lá no sementinhas.obrigado,abraço,chica

João Alberto disse...

Muito interessante Dalinha. Geralmente o avanço da tecnologia nos causa danos constrangedores. Rsrsrs.
Grande abraço.

joaquim da rocha disse...

Fui mais esperto Amiga Dalinha, a voz gravada na minha secretaria eletrônica é de um amigo radialista, se alguém se incomodar que esculhace ele, quem manda ser besta e pedir para gravar a mensagem de graça, adorei o texto, só não como você consegue viver rodeado de cariocas, tomara que pelo menos sejam framenguistas. Um Feliz ano novo e um grande abraço a você cearense em solo carioca e tambem para os cariocas ai de sua casa.

João Poeta disse...

Dalinha
Que historia hilariante!
Fiquei aqui rindo...
Me pus em seu lugar
Mas fazer o quê, agora?
É esquecer para não chorar.

Parabéns pelo texto muito realista, mesmo!
Abraços
João