O Cantinho da Dalinha é também o canto do cordel. O picadeiro onde costumo entoar o meu canto em versos propagando a poesia popular. É o Canto de uma cearense que adora suas raízes, canto da mulher destemida que saiu das entranhas nordestinas e abriu uma janela para cantar sua aldeia para o mundo, Interagir com outros poetas cordelistas desfrutando deste mundo virtual. Sou Maria de Lourdes Aragão Catunda, a poeta de Ipueiras e do cordel, sou a Dalinha Catunda. dalinhaac@gmail.com
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terça-feira, 30 de outubro de 2007
IPUEIRAS NA VOZ DE SEUS FILHOS
IPUEIRAS NA VOZ DE SEUS FILHOS
Ipueiras não é só uma saudade. Aquela cidade da meninice, da adolescência e dos sonhos é hoje uma lenda. A saudade aí é a senha a nos conectar passado e presente rumo ao futuro.
Por meio da Internet, ostentamos a Ipueiras de todos nós. E foi me valendo dessa janela a nos transportar até nossa cidade que garimpei, em variadas fontes, relatos aqui apresentados, de ipueirenses a enaltecer nossa terra.
Com prazer, repasso, aos aficcionados nesse rincão, o expressivo material a cantar nosso chão, que completa 124 anos de emancipação política.
Dalinha Aragão Catunda.
Criei traços daquela imagem que do alto mirava sempre ao anoitecer. Queria detalhar o rosto, mas resisti, seria como roubar do povo uma sigilosa homenagem. Decidi que o desenho não estamparia a face para que dessa forma representasse o rosto de todos os ipueirenses.
(Bérgson Frota, no conto "Um céu claro de outono")
Ipueiras é bonita,
Uma terra altaneira.
Seus filhos são orgulhosos
Desta cidade faceira.
(Chico Frota, No Poema "Cidade de Ipueiras")
"Eu, sempre que retorno à minha terra
"E o inverno matiza de esperança
O sertão enche o açude e azula a serra,
Como que volto a me sentir criança."
(Costa Matos, no livro "Estações de sonetos")
"Uma ponte corta o rio.
Uma saudade corta o ar.
Sou uma cacimba cavada,
no leito do Jatobá.
A água que brota é o pranto,
Que choro distante de lá."
(Dalinha Aragão, no poema Ipueiras uma paixão)
"Não tive só um pedaço de infância em Ipueiras. Tive talagadas de adolescente até o final, enquanto pude descer sem enguiar na idade. Que não só em 1957 a 1963 mais depois até quando mais pude. E se pudesse ainda teria mais". (Frota Neto no livro "Quase")
"Vejo-te em meus sonhos,
Meu passado, meu futuro,
Estou ausente infelizmente,
Mas vou voltar, eu juro!"
(Francisco Braga (No poema "Tributo a Ipueiras").
Para mim a Ipueiras recriada é uma experiência profunda porque vivida com profundidade. Até assusta. Dá medo que nos escape pelas mãos.
(Jean Kleber Matos) retirado da crônica, “O Mapa do Território”
"Fui amassado no barro das Ipueiras, nos vales e sertões do pé-de-serra da Ibiapaba. Terra de barro bom pra homem" (Gerardo Mello Mourão, em discurso por ocasião de recepção de título honorífico na Universidade Federal do Ceará)
"É uma cidade bonita que desponta
Na grandeza dos seus filhos,
Do seu povo, sua gente,
Na benção do Cristo Redentor,
Que de braços estendidos
Num amplexo de cem anos
Nos diz: eu sou teu benfeitor.
(Jeremias Catunda, no livro "Versos Versus Minha Vontade")
"... E aí num misto do velho Y – Juca Pirama e menino de novo, às margens do Jatobá (então elevado a arquétipo de nos cearenses), reviverei as cenas outrora sonhadas: as cheias de volta a sepultar águas pequenas, cacimbas e cercas de nossa solidão, atraso e miséria!" (Marcondes Rosa de Sousa, no artigo "As águas do Jatobá, no Jornal "O Povo").
"Minha cidade é pequena,
Mas pra mim ela é princesa,
De verdes montes cercada,
Ela é uma beleza.
Minha cidade é bonita,
Bonita por natureza.
(Neuza Aragão, no livro "Vida em versos")
"É assim que Isa, na sua grande memória, me faz lembrar dos meus tempos de criança em Ipueiras. Quando eu vejo um caminhão carregado de gente, dobrando aqui na curva da igreja, eu só me lembro de você, Tadeu"
Nas tardes de domingo, meu pai me incumbia de comprar o jornal correio do ceará ou o unitário, que era vendido no trem vindo da capital.
A molecada, nela me incluindo, pegava o caminho de volta da estação, de carona, nos caminhões do Matim, do Chico Manteiga ou do Chiquinho Evaristo. Era aquela algazarra: xingamentos, vaias aos que voltavam a pé, assovios (coiós) para as meninas moças. Coisas mesmo de moleque.
(Tadeu Fontenele)
"Hoje cada um tem sua vida em outros lugares. O que buscamos neste "site", acredito eu, é resgatar a memória de uma infância e adolescência da cidade onde nascemos. E, embora distantes, continuamos a amá-la, pois Ipueiras faz parte dos melhores momentos de nossas vidas. (Terezinha Mourão, por e-mail)
"Num passe de mágica (ou de mouse), transporto-me até Ipueiras como se estivesse na "avenida", sentado ao chão, conversando numa roda de amigos, revirando saudades" (Walmir Rosa de Sousa, por e-mail).
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
IPUEIRAS UMA PAIXÃO
Essa é minha homenagem a Ipueiras pelos seus 124 anos. Mais uma vez estarei em minha cidade. Um abraço a todos e até a volta. O aniversário de Ipueiras é no dia 25 de outubro.
Ipueiras, uma paixão
Sou nativa desta terra,
Dela não abro mão.
Quando enterrei meu umbigo,
Criei raiz neste chão.
Não troco por nada no mundo,
Meu pequenino rincão.
Cercada de morros e serras,
Sua paisagem é um primor.
Seria uma obra prima,
Se a retratasse um pintor,
Lá do alto onde se encontra,
Nosso Cristo Redentor.
Obra de Mestre Pedro Frutuoso,
Vê-se o arco triunfal.
Uma homenagem a virgem,
Peregrina de Portugal.
É a coroação de Fátima,
Uma festa sem igual.
Imponente lá no morro,
A imagem do Redentor.
Cristo de braços abertos,
Nosso eterno protetor.
A natureza abriga,
A arte de um escultor.
A igreja e sua torre,
Um sino a badalar.
Meninos jogando bola,
Na rua, no patamar.
São as fragrantes saudades,
Perfumando meu lembrar.
Uma ponte corta o rio,
Uma saudade corta o ar.
Sou uma cacimba cavada,
No leito do Jatobá.
A água que brota é o pranto,
Que choro distante de lá.
É assim minha Ipueiras,
Berço da felicidade.
Onde vivi minha infância,
E gozei a mocidade.
Ficar distante é portanto,
Viver remoendo saudades
" TITUNDA"
Essa crônica é uma homenagem a Tunda e as crianças que viveram esse tempo mágico em Ipueiras.
Foto:http://www.centrovegetariano.org/images/articles/borrego.jpg
POR DALINHA CATUNDA
Durante muitos e muitos anos, viveu na pequena Ipueiras um humilde carreteiro, que tinha o poder de encantar e atrair as crianças com suas fantásticas histórias.
Nesse tempo, o meio de transporte usado para conduzir as pessoas de uma cidade para outra era o trem. Tunda era um dos carreteiros, um negro forte e simpático, que em busca de uns trocados carregava a bagagem dos viajantes até o destino combinado.
Na cabeça do bom homem as malas chegavam aos seus donos, pois carro era artigo de luxo na época. Ele era pobre, mas tinha um tesouro que dividia sem egoísmo com as crianças: sua alegria.
Tinha o poder de manter a meninada da cidade numa eterna esperança de um dia ganharem um carneirinho. Sempre que passava por uma delas, repetia a mesma frase: 'Titunda' vai trazer um carneirinho pra você, viu?
- Titunda, quando você vai trazer meu carneirinho?
Era a frase que ele mais ouvia da meninada.
-- Amanhã, amanhã o 'Ti' trás.
--- Cadê meu carneirinho? - perguntava outra.
Tá lá no céu --- e apontava pra cima, rindo.
Era hoje, amanhã, depois e nunca chegava o tal dia. Assim foi com gerações e gerações, alegremente iludidas com a história do carneirinho. Certo dia, a cidade que sempre vivera debaixo de um céu azul, presenciou um fenômeno singular.
Ao badalar do sino da igreja, começou a aparecer no céu chumaços de nuvens brancas em forma de carneirinhos. Em pouco tempo, o firmamento estava completamente tomado. Quando o sino parou, todos olhavam para o céu que parecia formar uma bela gravura.
Do meio daquelas imagens feitas por nuvens, uma parecia ser a de Titunda a segurar um cajado reluzente comandando os carneirinhos que nunca chegaram às mãos das crianças, mas certamente permaneceram em seus sonhos. Quanto ao velho carreteiro, este, naquele dia, chegava ao céu, onde dizia estar seu grande rebanho.
domingo, 7 de outubro de 2007
ANSELMO VIEIRA
Foto: Leonardo Mota e Anselmo Vieira
ANSELMO VIEIRA
Um Cantador das Ipueiras
Anselmo Vieira de Souza, nascido nos idos de 1867, viveu por muito tempo, na cidade do Ipu. Mas na verdade, é um ipueirense nascido na fazendola Ilha Grande, perto de Nova-Russas, no município de Ipueiras.
Completamente analfabeto, mas apaixonado desde criança pelos desafios que escutava nas pelejas dos menestréis que circulavam pela sua região, não demorou a fazer versos e se tornar um repentista de renome, aparecendo entre os mais consagrados cantadores do Nordeste que foram biografados por Leonardo Mota, escritor que se dedicou a resgatar essa cultural oral enriquecendo o folclore nordestino.
Anselmo Vieira nunca viveu do ofício de cantador, somente nos tempos das grandes secas, ele saia pelo mundo atrás de ganhar o pão de cada dia usando seus dotes de repentista,
De seu repertório pincei esses versos que representam, muito bem, a situação do nordestino que se transforma em nômade ante a desgraça da seca:
“Patrão, eu to lhe pedindo
Sua boa proteção,
Deixei o meu natural,
A poeira do meu chão,
E vim pra este lugá
Coberto de precisão,
Me valendo dum e doutro,
Mode vê que é que me dão,
Só não quero que me digam:
“vá trabaia,seu ladrão”
O poeta e escritor Gerardo Mello Mourão, confessa que Anselmo Vieira é uma das referências em sua vida literata, pois muito se inspirou nos cantadores das feiras de Ipueiras, onde Anselmo era atração.
Em seu livro “Rastro de Apolo” enaltece o vate ipueirense louvando-o com alguns versos.
Ariano Suassuna, numa entrevista, admite que, “O Auto da Compadecida” foi baseado nos versos de três repentistas nordestinos, sendo um deles o caboclo Anselmo Vieira.
Enquanto Gerardo Mello Mourão, Ariano Suassuna e Leonardo Mota, dão crédito aos feitos desse competente cantador analfabeto que bordou com lindas palavras nossa história ipueirense, a própria Ipueiras, é analfabeta em relação a Anselmo Vieira de Sousa que não deixa de ser um patrimônio cultural dessa cidade.
Dalinha Catunda
Ipueiras-Ce
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
Poetas Populares
Foto: Dalinha entre os poetas populares de Ipueiras.
Poetas Populares
Confesso não sou repentista,
Mas versos eu sei fazer.
Louvar os artistas da terra,
Louvo com todo prazer.
Louvo de dia e de noite,
Louvo até o sol nascer
Me chamo Dalinha Catunda
Poeta eu sou também
Falo da nossa Ipueiras,
Do povo que quero bem.
Dos cantadores e repentista,
Poetas que a terra tem.
Na beleza do improviso,
Na arte do bom repente,
Louvo Raimundo lira
Que é um vate competente.
Tomara que ele espalhe,
Entre nós sua semente.
Respeito seus cabelos brancos
Também respeito sua idade,
Porém seus versos-menino
São cheios de velocidade.
Não tropeça, nem gagueja,
É o rei da vitalidade.
Sua caneta é a enxada,
Sua tinta é o suor.
Louvo com gosto o poeta,
Que se chama Luis Ló.
Na arte de fazer versos,
Não conheço outro melhor.
É no cabo da enxada,
Que ele cultiva seu chão.
Enquanto capina faz versos,
Pra alegrar seu coração.
Tenho orgulho desse cabra,
Que nasceu em meu sertão.
Simão Brito impõe respeito,
E tem minha admiração,
Os assuntos sociais,
Para ele, sagrados são
Cada cordel que escreve
Trás no fundo uma lição
Edílson Sales é poeta,
Radialista e imitador.
Alegra a nossa gente,
Com inigualável humor.
É mais um fruto da terra,
Demonstrando seu valor
Grande safra de poetas
Tem o nosso fértil chão:
Luis Vieira, Gonçalo Figueiras
E o poeta Raimundão,
Que no dom de versejar
Preservam uma tradição.
Louvo com muito amor
E repito a louvação,
A poetisa da terra
Maria Neusa Aragão
Que tem por sua cidade,
Mais que amor, adoração.
Já falei e já louvei,
Cada um de meus irmãos,
Nascidos na mesma terra,
Criados no mesmo chão.
Se não citei todos agora,
Cito em outra ocasião.
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