
Texto e foto de Dalinha Catunda
UM BOI REBELDE
Meu boi andava um tanto sem apetite para minhas vacas, que na verdade, não eram lá, essas coisas! Mal servido, andou pulando cercas, encrencando-me com a vizinhança, fazendo arruaça, enfim, pintando o sete.
O Diabo do boi era bonito..., preto, lustroso, bem parecido, mas em comportamento, era a pintura do cão.
Meu caseiro, sem simpatia nenhuma, nem paciência, para com o boi vadio que não lhe dava sossego, por sua vez, tirava também meu sossego, batendo na mesma tecla, que eu deveria vender aquele animal para evitar aborrecimento.
Aquilo me aporrinhava, porque na verdade, era eu tomada de uma grande simpatia por aquele boi preto, teimoso, que tinha vontade própria, e pouco estava ligando para o politicamente correto.
Sempre me encantei com a criatividade dos transgressores. A cada queixa que meu vaqueiro fazia, eu ficava séria, para impor respeito, mas intimamente sorria e vibrava.
No entanto, a última que ele aprontou, obrigou-me a tomar uma atitude mais firme.
Não tendo mais pasto, aluguei o pasto do Chico Novo. O boi achando pouca suas arruaças inventou de jogar-se dentro de um silo vazio. E para retirá-lo de lá? Depois de frustradas tentativas, a única solução era o trator da prefeitura que a mim fora gentilmente cedido para tentar resolver tal problema. Sabe qual foi a atitude do boi quando viu a aproximação do trator? Feito um animal alado voou buraco a fora e “ganhou o Bredo.” Pense!!! Se um bicho desses é cria de Deus. E ainda dizem que é um animal sagrado em algum lugar!
A contra gosto coloquei o boi a venda. Sua ficha pregressa dificultava qualquer possível negociação, o que de certa forma me aliviava a alma. Não tinha nenhuma vontade mesmo, de vender aquele bicho. Por mais trabalho que ele pudesse me dar.
Por via das dúvidas resolvi tentar comprar outro boi que abraçasse com gosto as obrigações não cumpridas, pelo inadimplente, ou seja: se engraçar com minhas vacas, fazer as honras do campo e sossegar no pasto multiplicando o rebanho.
Depois de uma longa procura, cheguei a Cláudio, criador de caprinos, ovinos, bovinos, que de certa feita, me vendera uma cabra anciã, dizem que a velha cabra já era até tetravó
O ar tímido de Cláudio, que hoje eu já traduzo como sonsice, me fez ficar de pé atrás. Tanto, que fiz um verdadeiro interrogatório sobre o animal que ele pretendia vender.
Era um gir, e eu estava querendo justamente um gir.
_E aí, Cláudio, estou querendo comprar um boizinho e de preferência, que fosse um gir.
-Ora Dalinha, meu irmão Didi, tem um maaansinho. Mas tão mansinho que quando a gente passa a mão nele, ele vai logo levantando o rabo.
_Serve não, Cláudio!
___ Mas por quê?
___ Estou procurando um boi que levante outra coisa, Que levante o rabo eu já tenho um lá em casa.
Ele muito sem graça me olhou com uma cara espantada e falou:
___ Mas se ele não der conta do serviço a senhora pode devolver.
Moral da história, nesse meio tempo chegou o inverno, muita comida, vacas bonitas, meu boi recuperou a libido, não pulou mais cerca, Minhas vacas começaram a dar mole para ele e ele dando duro em cima delas e foi felicidade geral.
Com tudo a disposição, o boi passou a se comportar como manda o figurino. Tudo que ele queria eram melhores condições de vida, para que tudo voltasse à normalidade.
Assim sendo, apesar do desapontamento do meu caseiro, vejo minhas vacas contentes, meu boi cheio de gás e eu como proprietária, feliz e aliviada.