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quarta-feira, 7 de novembro de 2007

QUESTÃO DE GOSTO


QUESTÃO DE GOSTO
Questão de Gosto

Ipueiras para mim, sempre teve um sabor especial. Revivo nas lembranças do presente o doce gosto do passado. Muitas vezes incomodo os menos saudosos com minha cantilena, porém, conto com uma boa parcela de adoradores do passado que se enlevam com meus saudosos suspiros. Minha intenção não é apenas remoer tristezas, meu prazer maior é desenterrar e espalhar alegrias.

Assim sendo, vou falar dessas coisinhas de cidade do interior que ficam grudadas na gente, e por mais tempo que se posso ter numa cidade grande, elas não arredam.

Eu sempre relaciono comer a prazer e prazer a pecado e pensando assim, muitas vezes pequei pela gula. Difícil resistir às guloseimas que infestavam Ipueiras nos bons anos de minha alegre existência

Aos sábados era sagrado comer bolo manzape na feira. Por mais que espalhassem que aquele bolo gostoso, embrulhado na palha da bananeira, era amassado com os pés, não inibiam os fiéis compradores.

Na esquina do Simão se tomava oricuri, na esquina do Guarani chupávamos o picolé de dona Joaninha. O de abacate era saborosissimo, ficou na história

A bodega do Nicacio era o “point” dos estudantes do colégio Otacílio Mota que faziam fila para merendar pão recheado com doce de leite . Era a merenda da hora.

Ah!!! E as palmas do Olegário? A criançada vivia de boca branca de tanto comer palma, mas não bastava ser palma, tinha que ser do Olegário.

No “bulim”,(biscoitos feitos com goma) as mãos mágicas eram de dona Etelvina, mãe da professora Alice Paiva. Os biscoitos feitos por ela desmanchavam-se na boca.

Tínhamos ainda, dona Neném do Genáro especialista em pirulitos, aqueles... vendidos em tábuas, aos gritos dos meninos. Recordo-me das chupetinhas feitas com o mesmo material do pirulito, porém não sei quem as fazia. Fica aí uma pergunta no ar.

O peito de moça era um pão de massa fina, melado por cima, e super saboroso. Acho que todos os padeiros da época faziam o tal pão. Engraçado que este pão era vendido, num cesto, só à tarde, de porta em porta.

Há um salgado, chamado canudinho, recheado com paçoca, que nunca comi em outro lugar. Este eu considero um sabor típico de Ipueiras. Lá ainda se faz, mas o recheio é cremoso, porém, prefiro o sabor antigo.

Um sabor que ficou impregnado em mim, foi o do buriti, sempre que chego em Ipueiras procuro a pamonha de buriti, para fazer doce ou a sembereba, que é um suco engrossado com farinha. Só que depois de tomado, bate um sono...

A bolacha fogosa, não foi um de minhas preferidas, mas sei que fez a alegria de muitos.
Farinha de pipoca! Comi muito. Mas, outro dia fui tentar e me entalei. Com certeza perdi a prática.Outra coisa que comi em criança, de me lambuzar, mas meu paladar adulto não aceita mais, é ovo batido com açúcar.

Eu não me perdoaria se terminasse esse relato sem falar de Vicente, o padeiro mudo, que falou quando a imagem de Nossa Senhora de Fátima passou por Ipueiras vinda de Portugal.
Dele era o pão mais gostoso que já provou minha cidade.

Vou sempre afirmar que, Ipueiras tem um sabor especial, mas lógico, que é questão de gosto.

4 comentários:

Jean Kleber disse...

O pão, os doces, os bolos...tudo é mais gostoso em Ipueiras. Tô doido pra voltar lá e comer um manzape...
Beijo.

Carlinhos Medeiros disse...

Matuto no mêi da pista
menino chorando nu
rolo de fumo e beiju
colchão de palha listrado
um par de bêbo agarrado
preto véio rezador
jumento jipe e trator
lençol voando estendido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Três moleque fedorento
morcegando um caminhão
chapéu de couro e gibão
bodega com surtimento
poeira no pé de vento
tabulêro de cocada
banguela dando risada
das prosa do cantador
buchuda sentindo dor
com o filho quase parido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Bêbo lascando a canela
escorregando na fruta
num batente, uma matuta
areando uma panela
cachorro numa cadela
se livrando das pedrada
ciscador corda e enxada
na mão do agricultor
no jardim, um beija-flor
num pé de planta florido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Mastruz e erva-cidreira
debaixo dum jatobá
menino querendo olhar
as calça da lavadeira
um chiado de porteira
um fole de oito baixo
pitomba boa no cacho
um canário cantador
caminhão de eleitor
com os voto tudo vendido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Um motorista cangueiro
um jipe chêi de batata
um balai de alpercata
porca gorda no chiqueiro
um camelô trambiqueiro
avelós e lagartixa
bode véio de barbicha
bisaco de caçador
um vaqueiro aboiador
bodegueiro adormecido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Meninas na cirandinha
um pula corda e um toca
varredeira na fofoca
uma saca de farinha
cacarejo de galinha
novena no mês de maio
vira-lata e papagaio
carroça de amolador
fachada de toda cor
um bruguelim desnutrido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Uma jumenta viçando
jumento correndo atrás
um candeeiro de gás
véi na cadeira bufando
radio de pilha tocando
um choriço, um manguzá
um galho de trapiá
carregado de fulô
fogareiro abanador
um matador destemido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Um soldador de panela
debaixo da gameleira
sovaqueira, balinheira
uma maleta amarela
rapariga na janela
casa de taipa e latada
nuvilha dando mijada
na calçada do doutor
toalha no aquarador
um terreiro bem varrido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Um forró de pé de serra
fogueira milho e balão
um tum-tum-tum de pilão
um cabritinho que berra
uma manteiga da terra
zoada no mêi da feira
facada na gafieira
matuto respeitador
padre, prefeito e doutor
os home mais entendido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Dalinha Catunda disse...

Jean Kleber,
O mais difícil era achar o caminho de volta. E esse você já achou, e sua familia ficou encantada com a terra vista. Sei que voltarão muitas vezes para saborear Ipueiras.
Moço da bodega,
Morro de inveja do Jessier Quirino, pois, queria eu, ter construido essa obra prima.Mesmo não sendo de minha autoria assino embaixo.Obrigada por enviá-la ao blog.

Anônimo disse...

Nossa, amo manzape minha mãe veio de crateús hotem e me trouse ai adorei. Quem não conhece precisa conhecer não vão se arrepender é uma delícia.