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domingo, 13 de abril de 2008

Vovó Ana do Arroz

Conto publicado originalmente no Diário do Nordeste em 13-04-2008 VOVÓ ANA DO ARROZ
Fazia dias que vovó Ana acordava sem sua costumeira alegria. Uma angustia imensa invadia o olhar daquela terna criatura, deixando amigos e vizinhos aflitos.

Pelo vermelho dos olhos, notava-se que andava choramingando pelos cantos.
Não demorou muito tempo e a notícia se espalhou.

Vovó Ana estava de mudança para a Capital. Ali no Arroz, seu pequeno lugarejo, ela vivia bem. Tinha uma casinha pequena, um bom quintal, onde criava suas galinhas.

A filha de vovó Ana, pré-supondo que ela não teria condições, pelo avançado da idade, de continuar vivendo sozinha no Interior, resolveu arrastá-la para a cidade grande. Lá, teria conforto, bons médicos, companhia da filha, do genro e dos netos.

Se não aceitou tudo de bom grado, vovó Ana também não se lastimou, enfrentou com dignidade a sua sina. Tudo já estava decidido, cabia a ela apenas vender seus poucos pertences e fazer a mudança de vez.

Só que, aquela doce vovozinha tinha uma grande paixão por suas galinhas. A família, composta por um galo e dez galinhas, nunca a deixou falando sozinha.

O galo se chamava Trontim e as galinhas todas tinham um mesmo nome, Veaninha. Todos atendiam prontamente aos chamados da boa velhinha. Só comiam em bandejas. Durante o dia, milho, à tardinha, arroz.

Com os olhos mareados, presenciei a parte mais comovente deste episódio. A entrega das galinhas vendidas.Vovó Ana, num fiapo de voz, chamava as aves que, uma a uma, vinham à sua mão, e em seguida eram entregues à compradora.

Ainda escuto ecos daquela voz meiga e carinhosa chamando suas aves:
-Vem, Trontim! Vem comer um “milhim”.

Saí triste daquela casa ao testemunhar o desencanto e a tristeza de Vovó Ana.Não voltei mais lá... Mas soube notícias do choro daquela doce criaturinha, que estava prestes a deixar o lugar que por muito tempo foi seu ninho, sua vida e sua felicidade.

Vovó Ana é daquelas que falam com os bichos e também é entendida por eles.

Que tal, se nós, ditos racionais, dialogássemos mais com nossos queridos velhinhos e os entendêssemos melhor?

6 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns, um conto infantil muito bem narrado e bonito.

Bérgson Frota

Anônimo disse...

Dalinha, adoro suas poesias e seus artigos, fico feliz em vê-los publicados agora ainda mais com a publicação de contos infantis. Parabéns.

Anônimo disse...

Achei lindo este conto Dalinha mas você deveria escrever em cima conto publicado e não artigo publicado. Um beijo.

Dalinha Catunda disse...

Bérgson,
Foi você quem me incentivou a escrever contos infantis. Lembro-me muito bem da "Lenda de Luara" o primeiro conto publicado no Diário do Nordeste e enviado por você.Obrigada, amigo.
Lucinha, você não imagina como é importante para mim, saber que toco as pessoas com os textos que escrevo.Valeu mesmo.
Maizinha você tem razão, realmente deveria ter colocado conto. Outra coisa, esse conto é real, por não esquecer a cena tocante, passei para o papel.Obrigada pelo comentário.
Dalinha Catunda

Josie disse...

Dalinha

adorei as fotos do teu cantinho
vamos conversar muitas vezes, com certeza

beijos muitos

Anônimo disse...

esse conto é verdadeiro, pois eu ja precie muitas vezes