O Cantinho da Dalinha é também o canto do cordel. O picadeiro onde costumo entoar o meu canto em versos propagando a poesia popular. É o Canto de uma cearense que adora suas raízes, canto da mulher destemida que saiu das entranhas nordestinas e abriu uma janela para cantar sua aldeia para o mundo, Interagir com outros poetas cordelistas desfrutando deste mundo virtual. Sou Maria de Lourdes Aragão Catunda, a poeta de Ipueiras e do cordel, sou a Dalinha Catunda. dalinhaac@gmail.com
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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
O beija-flor apaixonado
Imagem: Benes Texto: Dalinha Catunda.
Publicado no Jornal Diário do Nordeste de Fortaleza, em 10 de Janeiro de 2010
O beija-flor apaixonado
Sobre a copa de uma bela goiabeira se espalhavam ramas de um pé de maracujá.
Lindas flores alternavam-se entre pequenos maracujás atraindo insetos de todos os tipos.Borboletas e besouros batiam asas na ânsia de sorverem o néctar de cada flor.
No meio de tantas flores, iluminada pelo sol e bordada pelo orvalho matinal, no topo da árvore, uma delas se destacava balançando-se graciosamente ao vento.
Assim como existem rainhas em colmeias, aquela bela flor de maracujá, pela sua exuberância, pela beleza e pelo brilho que o sol lhe emprestava ao tocar as gotículas de orvalho que se espalhavam pelo seu interior, era sem dúvidas a rainha daquele maracujazeiro.
Eu fiquei algum tempo observando o ir-e-vir dos visitantes que se deliciavam com as belas flores apresentando um majestoso espetáculo natural.
De repente, algo chamou a minha atenção. Um beija-flor paradinho olhava embevecido para a bela flor.E assim ficou por muito e muito tempo, até que um mangangá, saído não sei de onde, pairou sobre a flor.
Foi aí que, inesperadamente o quieto beija-flor saiu do seu estado de êxtase e partiu para cima do mangangá que surpreso, não viu alternativa a não ser fugir do ataque.
Mesmo assim, o beija-flor perseguiu o grande besouro, preto e amarelo, até deixá-lo bem longe daquela exuberante flor que tanto lhe encantava.
A flor de maracujá não podia dispensar as visitas do mangangá que tinha como função fazer a polinização do maracujazeiro. Entretanto, estava roxa de amor pelo o pequeno pássaro que não tirava os olhos dela e viravolta cobria-lhe de beijos.
O pacato beija- flor que vivia voando de flor em flor, com ciúmes do mangangá, deixou sua vida aventureira e guardou todos os seus beijos para aquela flor esplendorosa que cativou para sempre seu coração.
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10 comentários:
Olá querida Dalinha.
Sei que esteve ausente e que está tudo bem contigo. Eu estive ausente dos comentários por causa de um problema que tive com um dos blogs e que me deu muito trabalho e horas a resolver. Mas cá estou, ler o seu beija-flor apaixonado. Também se apaixonam como nós, também têm coração. Lindo texto, como já nos habituou.
Beijos
Victor Gil
Muito lindo,Dalinha! Sempre assim aqui!beijos,chica
ola speken engulish??
Seu conto me lembrou a lenda de Narciso, você com grande sensibilidade literária o transportou belamente para um beija-flor apaixonado. Grande.
Olá Dalinha,
Um belo conto. O Beija-flor é um pássaro encantador, na cidade é difícil de se ver, mas quando vou ao interior, às vezes fico horas admirando o malabarismo que eles fazem na frente de uma flor.
Abraços.
Gostei e gostei! Gostei do texto todo, mas essa passagem..., olhe!
"O pacato beija- flor,...com ciúmes do mangangá,...guardou todos os seus beijos para aquela flor esplendorosa que cativou para sempre seu coração."
.
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Pois num é que fiquei com inveja do pacato beija-flor...me senti incapaz de sentir o seu sutil ciúme.
.
.
Polinização lembra semente ee semente lembra uma trova que Li POR Aí.
Com sua permissão, Dalinha:
"O ciúme não é semente
não dá flor nem é plantado,
mas quando tem procedência
dá galho pra todo lado."
.
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Apaixonei-me pelo texto e pelo beija-flor.
Parabéns amiga...
A braço S
'O pacato beija- flor que vivia voando de flor em flor, com ciúmes do mangangá, deixou sua vida aventureira e guardou todos os seus beijos para aquela flor esplendorosa que cativou para sempre seu coração'.
Ô, amiga, mas que texto bonito! Quanta poesia se encontra num beija-flor apaixonado... Uma delicadeza de texto. Que criatividade, aliás própria de vocês, os poetas.
Meu carinho
Tais luso
Que ternura de história, Dalinha. Eu não sei os nomes dos besouros. São todos besouros, mas esse era o manganá. Gosto muito destes nomes sonantes que por aqui tenho aprendido.
Um beijinho,
Maria Emília
Dalinha, miga!
Seu beija-flor apaixonado é muito lindo. Você junto a beleza da natureza com a estética de sua narrativa. PARABÉNS!!! Bjos. Rosário
DE LEILA
PARA DALINHA
Dalinha, vendo essa imagem, pensei em mandar um belo poema de Catulo. Mil abraços para a amiga e agora vou me transportar no voo do beija-flor.Quem sabe também me apaixono.
Catulo da Paixão Cearense
A FLOR DO MARACUJÁ
Encontrando-me com um sertanejo
Perto de um pé de maracujá
Eu lhe perguntei:
Diga-me caro sertanejo
Porque razão nasce roxa
A flor do maracujá?
Ah, pois então eu lhi conto
A estória que ouvi contá
A razão pro que nasci roxa
A flor do maracujá
Maracujá já foi branco
Eu posso inté lhe ajurá
Mais branco qui caridadi
Mais brando do que o luá
Quando a flor brotava nele
Lá pros cunfim do sertão
Maracujá parecia
Um ninho de argodão
Mais um dia, há muito tempo
Num meis que inté num mi alembro
Si foi maio, si foi junho
Si foi janero ou dezembro
Nosso sinhô Jesus Cristo
Foi condenado a morrer
Numa cruis crucificado
Longe daqui como o quê
Pregaro cristo a martelo
E ao vê tamanha crueza
A natureza inteirinha
Pois-se a chorá di tristeza
Chorava us campu
As foia, as ribera
Sabiá também chorava
Nos gaio a laranjera
E havia junto da cruis
Um pé de maracujá
Carregadinho de flor
Aos pé de nosso sinhô
I o sangue de Jesus Cristo
Sangui pisado de dô
Nus pé du maracujá
Tingia todas as flor
Eis aqui seu moço
A estoria que eu vi contá
A razão proque nasce roxa
A flor do maracujá.
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