Amigos,
Este é meu primeiro cordel
editado pelo PROJETO CESC CORDEL, de Juazeiro do Norte que tem patrocinado e divulgado
a cultura popular como ninguém.
Devo minha participação a poeta
cordelista Josenir Lacerda, referência em Literatura de cordel que não mediu
esforços para que tudo se concretizasse da melhor maneira possível.
A MORENA QUE CALOU O
MALANDRO
*
01
Vou contar uma
história
Preste atenção, por
favor,
Sobre um sujeito
malandro
E muito paquerador
Era Don Juan famoso
Elegante bem charmoso
Metido a
conquistador.
02
Toda mulher que ele
via,
Corria para cantar,
Dizia paro os amigos:
Mais uma vou
conquistar!
E tinha mesmo razão
Pois provocava paixão
Era cantar e ganhar.
03
Seu reinado durou
muito
Ate que se apaixonou
Por uma linda morena
Que o malandro
enfeitiçou
Ele fez o que podia
Fez até feitiçaria
Mas a gata não
ganhou.
04
E dizem que fez
promessa
Pra pagar no
Juazeiro,
Porém a de São
Francisco
Ele foi pagar
primeiro.
Fez o percurso a pé
Pra pedir em Canindé
Esta graça ao
padroeiro.
05
Foi na igreja de
crente,
Foi na macumba
também,
Porém nada da morena
Para ele dizer amém.
Aquele que só sorria,
Agora se maldizia
Por não conquistar
seu bem.
06
Foi então que
resolveu
A tal morena encarar,
Só faltou uma viola
Para o cabra
acompanhar.
E feito o dono do
mundo
Ele respirou bem
fundo,
Querendo desafiar.
07
Passou a mão nos
cabelos,
Foi alisando o
bigode.
Ajeitou o colarinho
E como quem tudo
pode,
Foi procurar a
trigueira,
Aquela deusa brejeira
Princesa de sua ode.
08
Com andar cadenciado
Com jeito de
gostosão,
Deu umas passadas
rápidas
Mostrando disposição
E como quem nada
quer,
Encarou a tal mulher,
Que ganhou seu
coração.
09
Ela encarou o Don
Juan,
E sua língua não
parava.
E tudo que ele dizia
Ela logo retrucava,
Foi bem longa esta
peleja
Eu quero que você
veja
Como a moça
contestava.
10
Assim se deu o combate
Não foi brincadeira,
não!
O conquistador Barato
Fez sua declaração.
E a morena não
perdia,
Pois na bucha
respondia,
Confira a
confrontação:
11C
Morena, minha morena,
Do cabelo cacheado.
Por ti eu sinto
paixão,
Mata-me teu rebolado
Que dizes deste
sujeito
Que pode não ser
perfeito,
Mas quer ser teu
namorado.
12-M
Você é pipa avoada,
Querendo a imensidão.
Passarinho de gaiola,
Nunca foi sua vocação.
Você é apenas petisco
Que se quiser eu belisco,
Mas sem grande pretensão.
13-C
Pois tu és a minha
amada
É só teu meu coração.
Desde o dia que te
vi,
Fiquei doido de
paixão
Se quiser casar
comigo
Não vai correr o
perigo
De morrer na solidão.
14-M
Você colibri galante,
Que gosta de voejar.
E vive de flor em flor
O seu destino é beijar.
É tal qual ave migrante
Arriba feito avoante,
Não queira me aliciar.
15-C
Casa e comida garanto,
Roupa lavada também.
Deixarei a boemia,
Ainda posso ir além.
Deixarei a tal bebida
Se tu ó minha querida
Resolver ser o meu
bem.
16-M
Eu não sou flor que se cheire,
Por isso, preste atenção:
Eu sou flor, porém agreste,
Das caatingas do sertão.
Sem querer uma querela!
A beija-flor não dou trela
Nem dou o meu coração.
17-C
Desde que senti teu
cheiro,
Mimosa flor do sertão,
Tornei-me um
prisioneiro
Um escravo da paixão
Falo com sinceridade
Desisto da liberdade,
Só pra ter teu
coração.
18-M
Homem o meu coração,
É difícil de ganhar.
Se alguém já conseguiu,
Esqueceu de me avisar.
Tome tino se oriente
E saia da minha frente,
Pois não vai me conquistar
19-C
Tu só te faz de
difícil,
Para te valorizar,
Mas eu tenho
paciência,
Na raça vou te
ganhar.
Pois sei que toda
mulher,
O que realmente quer,
É no fundo se casar.
20-M
Foi-se o tempo que mulher,
Sonhava com casamento.
Desde a carta de alforria
Já tem novo pensamento.
Agora ela vai à luta,
Encara bem a labuta,
É fraco seu argumento.
21-C
Pois tu vais te
arrepender,
De perder este
sujeito,
Que te traz no
coração,
Com carinho e com
respeito
Confesso estou
mudado,
Esqueça já meu
passado,
Modifique teu
conceito.
22-M
Meu amigo esta conversa,
Rendeu mais do que devia,
Este eterno resmungado,
Tá me dando é agonia,
Estou pensando direito,
Não vou mudar meu conceito,
Nem pela virgem Maria!
23-C
E se eu cair na
bebida,
E de tristeza morrer
A culpa vai ser só
tua
Que me botou pra
correr.
Tu não tem nem piedade,
Vai me deixar na
saudade,
Mas nada posso fazer.
24-M
Lamento seu desatino,
Porém corda não lhe dei.
Amor não é brincadeira,
Por isso lhe reneguei.
Amor pra mim é sagrado
Meu coração tá guardado,
Pra quem souber ser meu rei.
25-C
Mas tu já és soberana
Em toda situação.
Rainha da minha vida,
Ó minha flor do
sertão.
Não sou tão
aventureiro
Hoje estou em teu
terreiro,
Querendo tua
compaixão.
26-M
Chega de papo furado,
E de prosa sem futuro.
Homem de conversa mole,
Realmente não aturo.
Você é caso perdido
Não serve para marido,
Pois vive deixando furo.
27-C
O mundo da muitas
voltas,
E eu aqui vou te
esperar.
Vou à luta e não
desisto.
Garanto não vou
cansar.
Adeus, até outra
hora,
O que não ganhei
agora,
Mais tarde vou te
cobrar.
28-M
Adeus projeto de gente,
Projeto de cantador.
Não sabe cantar mulher,
E nem é bom perdedor,
Não passe na minha porta
Pois você é carga torta,
Descarado e sem pudor.
29-C
Adeus minha flor do
agreste,
Que nasce em
cansanção.
Ó flor do mandacaru,
Que só me dá
comichão.
Pois sendo tão maltratado,
Covardemente chutado,
Não volto mais aqui não.
30-M
Vai mala velha sem alça,
Vai jumento batizado,
Teu lugar lá no inferno,
O cão já tem reservado.
E some da minha vida,
Porque só mulher perdida,
É quem fica do seu lado.
31-
Nesta contenda arriscada
Nesse combate fatal
O cantador de mulher
Acabou se dando mal
E perdeu esta disputa
A certeza absoluta
Ele teve no final.
32
A mulher hoje é esperta
Aprendeu a ser astuta
Sabe se posicionar
Adotou nova conduta
Dentro da sociedade
Vive nova realidade
Aguerrida é sua luta.
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