
Entrevista com Bérgson Frota
Formado em Filosofia/Licenciatura pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e em Direito pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). É professor visitante da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e professor de Grego Clássico no Seminário da Prainha - Fortaleza.
01- O que é Ipueiras culturalmente falando?
- Um berçário de poetas e escritores, percebo como Ipueiras em relação a outros municípios do Estado se destaca nesta área.
02- O que significa Ipueiras para Bérgson Frota?
- Ipueiras é a raiz, a fonte de inspiração, foi o começo de tudo. A melhor imagem que definiria esta resposta seria a de uma grande árvore que para viver e produzir frutos precisa ter suas raízes fortemente enterradas no solo que a nutriu e sustenta.
03- Ipueiras é um berço de ilustres personalidades do mundo literário. A quem você renderia suas homenagens?
- Sem dúvida a Gerardo Mello Mourão, a forma com que este grande escritor e poeta divulgou Ipueiras é um exemplo raro e digno para quem deseja fazer o mesmo.
04- Um de seus trabalhos que mais gosto é “Dona Diana de Deus”. Entre tudo que você já escreveu, o que mais lhe tocou?
- “A última lua cheia”, pois nele estão os ingredientes mais difíceis de um conto, ou seja, a narrativa de uma vida feita sem enfeites, nua e crua, com alegrias e tristezas, tendo ainda a obrigação de quem narra prender o leitor do começo ao fim.
05- Na sua versatilidade você escreve: contos, crônicas, trabalhos de pesquisa e histórias infantis. Com qual destes gêneros você se identifica mais?
- Gosto dos contos, principalmente narrando neles histórias de tipos pitorescos que fizeram o feliz passado de Ipueiras.
06- Sou uma dos personagens de seus contos. É mais fácil falar dos vivos, dos mortos ou independe?
- É muito difícil falar dos vivos. Os mortos podem ser mergulhados numa fantasia que deixa o narrador livre para criar algo mais, os vivos crucificam o escritor na realidade e o obrigam a seguir os fatos numa narrativa linear, sempre obedecendo a uma seqüência cronológica.
07- O que você guarda de Ipueiras na memória dos tempos de criança?
- O tempo do inverno, os banhos no rio, na chuva que caía até anoitecer e finalmente quando tudo passava ficando a noite fria com o barulho dos grilos e sapos.
08 – Nascer em outra cidade foi apenas um acidente de percurso?
- Sim, nasci no Ipu, mas sempre me identifiquei ipueirense, gosto do Ipu mas tenho Ipueiras no coração.
09 – Seu histórico familiar é composto de escritores como Hugo Catunda, Jeremias Catunda e Frota Neto. Você se acha geneticamente herdeiro, ou acredita numa história pessoal?
- Falar numa história pessoal neste sentido seria fazer pouco caso das grandes figuras citadas, estas e outras que tenho na medida do possível colocado nos meus trabalhos. Não me considero herdeiro no sentido fechado que esta palavra encerra, diria que venho somar junto com os citados e unir-me aos que hoje escrevem e divulgam Ipueiras.
10 – O que não tem mais em Ipueiras que deixou saudades?
- Caindo num saudosismo saudável diria que toda uma comunidade de amigos que se foram e plantaram raízes distantes e a gente boa mais velha que não está mais entre nós.
11 – Ipueiras hoje veste roupa nova. Tudo muito limpo. Entrada e saída da cidade impecável, mas em compensação vemos esgotos despejados irresponsavelmente no rio Jatobá. É o tal do veludo por cima e molambo por baixo?
- Acho que tudo vem em etapas. A cidade está sendo bem cuidada e crescendo, sobre os esgotos no rio, logo com a perenização do mesmo, a criação de uma rede de tratamento dos esgotos será prioridade, pois só assim o rio perenizado se tornará fonte de lazer e alegria como foi em tempos passados.
12 – Você concorda que resgatar o passado é eternizar nossa história, ou acha simplesmente um saudosismo piegas?
- O termo “saudosismo piegas” carece de muita determinação, muita especificação. Acredito no valor do resgate histórico e cultural como um meio não só de eternizar a nossa história como também de trazer ao município um orgulho sadio, uma auto-estima longe do estéril bairrismo que nada produz.
13 - Que sugestão você daria para o maior proveito da cultura ipueirense?
- A valorização do artista primeiro na terra com criação de prêmios e publicação de trabalhos em livros, depois uma divulgação maior em feiras culturais no que se referisse ao município.
14 – Qual é o seu olhar sobre a Ipueiras atual?
- Muito positivo. Ipueiras diferente de outros municípios vizinhos soube crescer unida, sem perder distritos, crescendo a sede com muitas melhorias e permitindo aos distritos mesmo desenvolvimento, isso resultado de uma visão mais ampla de seus últimos prefeitos.
DC- Bérgson Frota, obrigada pela participação, e fique a vontade para suas considerações finais.
- Gostaria de encerrar com uma frase que coloquei finalizando meu artigo “Um céu claro de outono”, na comemoração dos vinte anos da feitura do selo para o centenário de Ipueiras : “A história do povo cearense, com a força dos ipueirenses, lhes outorgará um lugar digno de honra e valor no panteão dos séculos vindouros.”
Obrigado pela oportunidade