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domingo, 31 de agosto de 2008

RETRATO DO PASSADO


Foto retirada do: orkupido.ning.com

Retrato do Passado

Namorou e ficou noiva.
Casou no padre e no civil.
Disse amém a sociedade
Que suas podres leis pariu,
E o que foi feito de sua vida
Não foi ela quem decidiu.

Casamento arranjado
Aos moldes tradicionais.
Um negócio ajustado
Aos interesses dos pais.
Que vedavam os ouvidos
A sua angustia e seus ais.

Filhos ela teve tantos
Nem pôde nos dedos contar.
Quando esvaziava o bucho,
Voltava a emprenhar.
Fez filhos e não amor,
Não aprendeu a gozar.

È uma boa parideira,
Dizia sempre o marido.
Pelas mãos da parteira
Eram os filhos recebidos.
Quando arriava a bexiga,
Com o médico era resolvido.

Empregada ela tinha,
Pois tinha “boa” situação.
Era uma cabocla prendada.
Era de forno e de fogão.
E nas quebradas da noite
Também servia ao patrão.

O marido era bom partido,
Criado nos dogmas da fé.
Aos domingos ia à missa,
Mas freqüentava o cabaré,
As taras eram com as putas,
E os filhos com a mulher.

“Até que a morte os separe”
Assim era feita a negociata.
O marido era um bom emprego,
A mulher deveria ser grata.
“O que Deus une ninguém separa”
Dai, a submissão era farta.


Uma fotografia na parede,
Retrata esse triste passado.
Que visando a posteridade.
Sempre fora bem focado
Entre paletós e bigodes
Vestidos bem comportados.

Lá se foi o velho tempo,
Do império patriarcal.
A mulher, hoje, evoluída
Não necessita de aval,
Desbrava o seu futuro
Encara o bem e o mal.

4 comentários:

Anônimo disse...

Uma sóbria poesia cheia de verdades doloridas, mas que são a realidade que se estampou e continuar a estampar-se em muitas vidas. Parabéns.

Jean Kleber disse...

Dalinha, se eu fosse definir esta poesia com uma expressão, esta seria: "com todas as letras".Disse tudo. Parabéns, as mulheres têm em você uma lider. Com seus versos V. vai defendendo valores. Despertando consciências.

Oliver Pickwick disse...

Pegando carona no comentário do Jean Kleber, acrescento a "todas as letras", todos os assentos, vírgulas, pontos e vírgulas, pingos nos iiiiiis, çedilhas, tremas, alfa, beta e gama... espere! estas três últimas são gregas! Não, importa! A Dalinha merece.
Um beijo!

DëDë disse...

Simplesmente Fantastico!!
A tua poesia retrata, o que passaram, muitas e muitas mulheres, neste mundo cruel!!
Parabens!