O Cantinho da Dalinha é também o canto do cordel. O picadeiro onde costumo entoar o meu canto em versos propagando a poesia popular. É o Canto de uma cearense que adora suas raízes, canto da mulher destemida que saiu das entranhas nordestinas e abriu uma janela para cantar sua aldeia para o mundo, Interagir com outros poetas cordelistas desfrutando deste mundo virtual. Sou Maria de Lourdes Aragão Catunda, a poeta de Ipueiras e do cordel, sou a Dalinha Catunda. dalinhaac@gmail.com
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domingo, 31 de agosto de 2008
RETRATO DO PASSADO
Foto retirada do: orkupido.ning.com
Retrato do Passado
Namorou e ficou noiva.
Casou no padre e no civil.
Disse amém a sociedade
Que suas podres leis pariu,
E o que foi feito de sua vida
Não foi ela quem decidiu.
Casamento arranjado
Aos moldes tradicionais.
Um negócio ajustado
Aos interesses dos pais.
Que vedavam os ouvidos
A sua angustia e seus ais.
Filhos ela teve tantos
Nem pôde nos dedos contar.
Quando esvaziava o bucho,
Voltava a emprenhar.
Fez filhos e não amor,
Não aprendeu a gozar.
È uma boa parideira,
Dizia sempre o marido.
Pelas mãos da parteira
Eram os filhos recebidos.
Quando arriava a bexiga,
Com o médico era resolvido.
Empregada ela tinha,
Pois tinha “boa” situação.
Era uma cabocla prendada.
Era de forno e de fogão.
E nas quebradas da noite
Também servia ao patrão.
O marido era bom partido,
Criado nos dogmas da fé.
Aos domingos ia à missa,
Mas freqüentava o cabaré,
As taras eram com as putas,
E os filhos com a mulher.
“Até que a morte os separe”
Assim era feita a negociata.
O marido era um bom emprego,
A mulher deveria ser grata.
“O que Deus une ninguém separa”
Dai, a submissão era farta.
Uma fotografia na parede,
Retrata esse triste passado.
Que visando a posteridade.
Sempre fora bem focado
Entre paletós e bigodes
Vestidos bem comportados.
Lá se foi o velho tempo,
Do império patriarcal.
A mulher, hoje, evoluída
Não necessita de aval,
Desbrava o seu futuro
Encara o bem e o mal.
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4 comentários:
Uma sóbria poesia cheia de verdades doloridas, mas que são a realidade que se estampou e continuar a estampar-se em muitas vidas. Parabéns.
Dalinha, se eu fosse definir esta poesia com uma expressão, esta seria: "com todas as letras".Disse tudo. Parabéns, as mulheres têm em você uma lider. Com seus versos V. vai defendendo valores. Despertando consciências.
Pegando carona no comentário do Jean Kleber, acrescento a "todas as letras", todos os assentos, vírgulas, pontos e vírgulas, pingos nos iiiiiis, çedilhas, tremas, alfa, beta e gama... espere! estas três últimas são gregas! Não, importa! A Dalinha merece.
Um beijo!
Simplesmente Fantastico!!
A tua poesia retrata, o que passaram, muitas e muitas mulheres, neste mundo cruel!!
Parabens!
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